Na manhã desta terça-feira (4), o Instituto Central de Ciências da UnB amanheceu com piquete e portões fechados como forma de protesto dos servidores técnico-administrativos e professores, categorias que estão em greve há quase três meses. Os portões foram reabertos após as 11 horas da manhã.
“Nossa principal exigência é para que tenhamos aumento esse ano e pela reestruturação da carreira, estamos reivindicando reposição salarial, além da reivindicação de melhores condições de trabalho com investimento nas universidades e investimento na assistência estudantil”, disse o coordenador-geral do Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), Edmilson Lima.
Na avaliação do sindicato, percebe-se um abismo entre o que ocorre na mesa de negociação e as falas do governo em diversos eventos quando exaltam a Educação, com discursos que não se efetivam na prática. “Os trabalhadores da Educação, em especial os Técnico-administrativos, receberam como oferta nas mesas de negociação os menores aportes financeiros. A última proposta apresentada não contribui para romper com as discrepâncias salariais entre as categorias do serviço público federal, numa contradição com o discurso do governo de promover a redução da diferença entre os que ganham mais e os que ganham menos”.
O movimento paredista de técnico-administrativos e professores na UnB acompanha a escala nacional na rede federal de educação com pelo menos 54 universidades, 51 institutos federais (IFs) que estão em greve.
Um estudo realizado pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) revela uma realidade preocupante: os servidores públicos federais acumulam perdas salariais que chegam a 25% entre 2016 e o final de 2023. O cenário se agravou especialmente durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), de acordo com o Fonasefe.
Os cálculos da entidade mostram que, entre o governo Temer e o primeiro ano do atual governo Lula, a inflação acumulada atingiu 42,99%. No mesmo período, os salários dos servidores federais tiveram um aumento de apenas 14,4% ou 25%, dependendo da categoria. Essa discrepância entre inflação e reajuste salarial corrói significativamente o poder de compra dos funcionários públicos.
Ao longo de oito anos, os servidores conseguiram reajustes salariais por meio de apenas dois acordos negociados. O mais recente, já no governo Lula, em 2023, concedeu um reajuste linear de 9% a todos os servidores – ainda abaixo da inflação do período, que foi de 4,62%. O acordo mais antigo, de 2015, ainda no governo Dilma Rousseff (PT), teve seus efeitos estendidos aos governos subsequentes de Temer e Bolsonaro.
Orçamento
A presidenta da Associação dos Docentes da UnB (ADUnB), Eliene Novaes Rocha, afirma que o trabalho cotidiano tem sido cada vez mais precarizado pela falta de investimentos ao longos dos anos.
“Professores e estudantes estão cada um no seu nível sentindo o impacto que é a retirada sistemática dos recursos ao longo dos anos. Então, para além da reestruturação da carreira e recomposição salarial, para manter os professores em sala de aula todos os dias precisa de orçamento. A universidade hoje tem um orçamento menor do que tinha em 2013 e nós estamos lutando para que o orçamento volte pelo menos ao patamar de 2016. As universidades brasileiras, nos últimos 10 anos, perderam 40% do seu orçamento e a UnB tem quase 30% a menos do número de técnico-administrativos necessários para manter o funcionamento da universidade”, destacou.
Após a ação no ICC, servidores técnico-administrativos da UnB realizaram uma Assembleia em que foi aprovado um calendário de atividades mobilização para os próximos dias, entre estas a participação em uma Audiência Pública que acontece no Senado Federal, nesta quarta (5) e que vai discutir a greve na Educação Federal e também a participação no ato contra o genocídio em Gaza, que acontece na quinta-feira (6), às 16h, em frente ao Hospital Materno Infantil (HMIB), localizado na 608 Sul. Também na quinta (6) acontece uma Assembleia Geral da categoria docente da UnB.
Movimento estudantil
As categorias em greve recebem apoio do movimento estudantil. André Doz, um dos coordenadores do Diretório Central dos Estudantes da UnB (DCE), compara a greve da categoria com outras que tiveram reajuste, como por exemplo, policiais penais que receberam reajuste de cerca de 60%.
“Não é possível que uma categoria que foi tão importante para derrotar o Bolsonaro eleitoralmente em 2022 esteja sendo tratada com descaso pelo atual governo federal e seja recebida com portas fechadas”. Ele também acrescenta que “é fundamental que se entenda também a gravidade de se manter o teto de gastos na administração pública. Não podemos manter o arcabouço fiscal, que a longo prazo representa a desvinculação dos técnicos da educação e da saúde”.
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Edição: Márcia Silva