A integrante do Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) no Brasil, Maren Mantovani, disse, nesta sexta-feira (07), que há, no mínimo, uma dissonância entre o discurso e as ações do governo federal em relação ao apoio à causa palestina.
A representante do BDS, movimento global que articula o boicote econômico ao Estado de Israel, aponta a incoerência do país em um momento em que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), denuncia a situação de Gaza, e, mesmo assim, continua estabelecendo laços econômicos com Israel.
“Temos o discurso de Lula denunciando, mas o que preocupa aqui é que tem uma dissonância. De um lado, temos a condenação do que Israel está fazendo, e o outro que é a economia do Brasil frente o genocídio. O fato é que o Brasil, depois de várias denúncias, está firmando dois contratos israelenses militares novos, de quase 1 bilhão de dólares. Um dinheiro que poderia ser convertido aos salários para os professores no Brasil”, aponta Maren.
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A fala da integrante do BDS foi feita durante aula pública sobre “Oito meses de genocídio em Gaza e o papel das universidades brasileiras no boicote ao Apartheid israelense”, na sede da Associação do Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB). O debate foi mediado pelo embaixador Tadeu Valadares e com a participação de Jamal Juma, integrante da secretaria nacional do Comitê Nacional Palestino de Boicote, Desinvestimento e Sanções.
Ao Brasil de Fato DF, Maren completou afirmando que essas são "as mesmas empresas que estão trabalhando com Israel para possibilitar o genocídio palestino. Financiar essas empresas e máquina militar israelense no mesmo momento em que se reconhece que há um genocídio, é no mínimo uma dissonância no que se fala e o que se faz. O grande problema que temos que resolver agora é que, se o Brasil realmente é um amigo da Palestina, é preciso acabar com essa cumplicidade."
Momento crítico
No final de maio deste ano, o Ministério da Saúde de Gaza havia comunicado que o número de mortos chegou a 35.984 no território palestino desde a intensificação do conflito entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro. Para Jamal Juma, este é o momento mais perigoso e critico da história da luta do povo palestino.
“Não podemos chamar de guerra, já que guerra é entre dois exércitos. O que temos em Gaza é esse momento de combatentes com pouquíssimas armas, enquanto do outro lado tem milhares de soldados equipados com toda tecnologia com apoio dos Estados Unidos”, disse Jamal.
Cessar-fogo
No dia 31 de maio deste ano, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou uma proposta de cessar-fogo baseada num fim faseado da guerra, que envolve a retirada das forças israelenses de áreas construídas, a libertação de reféns feitos pelo Hamas e prisioneiros palestinos, juntamente com um plano para reconstrução de Gaza.
Porém, há dúvidas quanto à viabilidade do plano. O governo do premiê Netanyahu disse que o país prosseguirá com a ofensiva desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro até alcançar “todos os objetivos”, incluindo a destruição das capacidades militares e de governo do Hamas.
Para Jamal, é preciso trabalhar por uma luta urgente e, para isso, é necessário, pelo menos, reduzir a relação diplomática com Israel. "É preciso conseguir o cessar-fogo, e é evidente que ele é central, mas não é o fim do genocídio. As bombas deixaram de cair, mas o povo não vai deixar de morrer".
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Edição: Flávia Quirino