Com essa política de saúde, pessoas continuarão a morrer sem atendimento nas portas dos hospitais
Mais uma vez, precisamos falar sobre saúde no Distrito Federal. Logo de início, já afirmo: o problema não é falta de dinheiro. O verdadeiro desafio é a política de saúde que adotamos. Nos últimos anos, temos visto um investimento crescente em um modelo hospitalocêntrico e médico-centrado, enquanto a atenção primária e os agentes comunitários de saúde são negligenciados.
É essa inversão que faz com que os hospitais fiquem lotados com pacientes que poderiam ser atendidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Problemas de garganta, febre, diabetes descompensada, tudo isso poderia ser resolvido perto de casa. No entanto, as UBS estão sem profissionais e equipes de saúde da família, sobrecarregando os hospitais e gerando uma cadeia de ineficiências. É importante observar também que é justamente a atenção primária a maior responsável pela prevenção de doenças e controle de doenças.
Em um cenário ideal, com investimento em atenção primária e Saúde da família, teríamos os Agentes Comunitários de Saúde fazendo acompanhamento da população de perto, conhecendo as necessidades dos pacientes e realizando ações preventivas. Afinal, numa Unidade da Federação em que a maior parte das internações em hospitais são por doenças cardiovasculares, o simples ato de aferir e fazer o controle da pressão de um paciente pode salvar uma vida!
Lembremos de como os recursos para a saúde eram divididos: há tempos, 50% vinham do fundo constitucional e 50% do Tesouro do DF. Hoje, 70% do fundo constitucional financia a saúde, e apenas 30% vem do Tesouro. Essa mudança reflete uma inversão que não acompanha as necessidades reais da população. A realidade é que o Governo do Distrito Federal (GDF) fez uma escolha consciente de não priorizar a saúde pública.
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IGESDF), prometido pelo GDF como uma salvação, na prática gerou uma duplicidade de gestão, confundindo a população e fragmentando os serviços. Precisamos de uma política de saúde que fortaleça a atenção primária, com profissionais capacitados e valorizados. Mais do que isso, precisamos de uma política que olhe para a saúde além da ausência de doença.
Qualidade de vida também é saúde, e isso significa oferecer à população acesso a uma alimentação saudável, ambientes de lazer, educação, saneamento básico, e condições dignas de moradia. Quando investimos em qualidade de vida, prevenimos doenças e melhoramos o bem-estar geral da população, reduzindo a demanda por serviços médicos de emergência e tratamentos complexos. Portanto, promover qualidade de vida é uma estratégia essencial para uma saúde pública eficiente e sustentável.
Infelizmente, enquanto houver essa inversão de prioridades, a construção mais Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) não vai resolver nossos problemas. Basta observar que o caos da saúde pública tem obrigado às UPAs a operar como hospitais, inclusive internando pacientes sem nenhuma estrutura para tal.
Precisamos espalhar as UBS pelo território, garantindo uma estratégia de saúde territorializada e adequada ao crescimento populacional. O modelo orçamentário atual prioriza contratos emergenciais e terceirizações, deixando serviços essenciais como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) com 50% da frota sucateada. Em vez de investir diretamente no SAMU, recorremos a empresas privadas, perdendo controle e capacidade de fiscalização.
É hora de reorientar nossas prioridades. Investir na atenção primária e fortalecer o SUS. Só assim teremos uma saúde pública eficiente e de qualidade, que realmente atenda às necessidades da população.
O SUS é porta aberta! A nossa luta é por uma saúde verdadeiramente pública e valorizada para que ninguém mais morra por falta de atendimento.
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* Max Maciel é pedagogo e deputado distrital.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Márcia Silva