Distrito Federal

Destruição ambiental

DF registra 105 incêndios com 325,98 hectares de área queimada em junho deste ano

Ação humana é a principal causa dos incêndios florestais e podem agravar efeitos no clima durante época da seca

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
De janeiro a maio deste ano, o número de queimadas quadruplicou em comparação com o mesmo período de 2023 - Foto: Reprodução/Coletivo Boca da Mata

O Distrito Federal enfrenta um cenário preocupante em relação aos incêndios florestais. Dados do Instituto Brasília Ambiental (Ibram) revelam que, no mês de junho de 2024, foram registrados 105 incêndios com 325,98 hectares de área queimada. Já nos primeiros cinco meses do ano, janeiro a maio, o Ibram informou que foram registrados 69 incêndios florestais, no mesmo período do ano passado, foram registrados 13 incêndios florestais. O que representa um aumento de 430%.

A intensificação das chamas, somada à estiagem que se aproxima, eleva o alerta para um ano ainda mais seco e quente. Em termos de área devastada, o crescimento também é alarmante: 9,13 hectares queimados entre janeio e maio 2023 contra 169,08 hectares no mesmo período deste ano, um acréscimo de 1.755%.

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), a principal causa dos incêndios é a ação humana, seja por negligência ou por ações intencionais. Queimas de lixo, pastagens e terrenos baldios, fogueiras mal apagadas e disputas por territórios são os principais motivos para o início das chamas.

Em nota oficial, o CBMDF reforça a importância da prevenção como medida crucial para conter o problema. A corporação orienta os moradores das áreas de risco a realizarem e manterem aceiros (faixas livres de vegetação) em torno de suas casas, armazéns e outros materiais.

Com a chegada da estiagem, que se estende de maio a setembro, o alerta de emergência contra incêndios florestais no Distrito Federal se intensifica. A baixa umidade do ar torna a vegetação mais seca e suscetível ao fogo, exigindo ainda mais atenção e cuidado da população.

Boca da Mata

Um exemplos destas queimadas está no Parque Distrital Boca da Mata, que corta Taguatinga e Samambaia. Na área, foram registradas quatro queimadas desde que começou a estiagem em 2024. O Boca da Mata foi criado considerando a necessidade de preservação do Córrego Taguatinga e, hoje, é uma peça chave da Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Parque JK.

O técnico ambiental, engenheiro agrônomo e membro do Coletivo Boca da Mata, Breno Vidany, destaca que para diminuir o impacto do fogo no Distrito Federal, principalmente, no Boca da Mata, é preciso de um investimento adequado, que atenda a demanda local. Ele aponta a integração de órgãos públicos, iniciativa privada e a sociedade civil para investir na criação de planos e contratos de brigadistas permanentes.


Total de área queimada no Parque Distrital Boca da Mata em 2024 / Foto: Reprodução/Coletivo Boca da Mata

No parque, a maioria dos incêndios acontecem durante a seca. Nestes períodos, humanos ateiam fogo acidental ou propositalmente para queimar resíduos e matéria orgânica. A vegetação do campo de murundus, isto é, áreas não adaptadas ao fogo, facilita a propagação rápida das chamas, resultando em devastação da biodiversidade, incluindo a fauna, flora e microbiota, remoção de nutrientes do solo, fragmentação de corredores ecológicos e poluição do ar.

O ambientalista e geógrafo Leandro Bruno, integrante do Coletivo Boca da Mata de prevenção e combate ao incêndio florestal, avalia que pouco está sendo feito pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para evitar que o problema se agrave. Ele explica que as medidas de prevenção, são as mais efetivas, porém “o governo distrital não tem tido presença, principalmente na unidade da boca da mata, que é uma unidade de conservação de proteção integral. É uma área que é úmida, não deveria ocorrer queimadas, mas há uma ausência do poder público mesmo na unidade”.

Ele também afirma que existem fatores de disputa econômica executada por setores do latifúndio brasileiro que intensificam a proporção e a quantidade de incêndios a cada ano “para a expansão do agronegócio. É a fórmula deles queimar uma grande quantidade de áreas, que muitas vezes são atravessadas por territórios indígenas ou quilombolas que o agro deseja para colocar algum tipo de monocultura”.

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Breno Vidany, acrescenta que há técnicas de manejo do fogo praticado por pessoas que fazem uso positivo desse recurso na agricultura em certas épocas do ano, que são queimas controladas. Porém, há outros tipos de incêndios envolvendo “conflitos de terra, é um uso muito comum para expulsar populações locais, pois o fogo obriga muitas pessoas a se deslocarem. Também se usa o fogo para converter áreas nativas para facilitar a entrada de pastagens”.

Ele também coloca que as consequências do alto índice de fogo no impacto ambiental afeta toda teia ecológica, como, por exemplo, disposição da fauna, pois “os animais, principalmente mamíferos, muitos afetados saem para procurar outros ambientes. Como o cerrado está cada vez mais fragmentado, fica difícil para eles encontrarem um bom lugar de adaptação. Ficam sujeitos a todo tipo de perigo, como atropelamento, contato humano, exposição à caça e ação humana. Outros bichos fundamentais para manutenção ecológica, como abelhas, sapos e pássaros, também são muito prejudicados”.

Ele acrescenta que todo o ritmo do ciclo ambiental pode acometido com a “danificação do solo, maior tendência de erosão e aumento da poluição do ar. Vários gases são emitidos são agravadores do aquecimento global, como o óxido nitroso e óxido nítrico, e atingem o ciclo biogeoquímico. Acabam piores o quadro de mudanças climáticas e eventos extremos”.

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Edição: Márcia Silva