O Festival Latinidades, que nasceu no Distrito Federal, mas já ganhou asas pelo Brasil e pelo mundo, chega à sua 17ª edição com o tema "Vem Ser Fã de Mulheres Negras". Em Brasília, o evento que celebra a mulher negra latino-americana e caribenha acontece de 25 a 27 de julho, no Museu Nacional da República, com programação formativa e artística gratuita.
“Ser fã de mulheres negras em uma sociedade racista e machista é revolucionário”, afirma a idealizadora do Festival, Jaqueline Fernandes. Segundo ela, a edição deste ano é uma síntese de tudo que o Latinidades vem construindo nestes 17 anos de existência, colocando mulheres negras em evidência em todas as esferas do evento: “no palco, atrás das cortinas, nas posições de diretoria e articulação, e como fornecedoras e empreendedoras”.
O tema deste ano é um chamado ao reconhecimento do trabalho e da contribuição das mulheres negras para toda a sociedade. "Vamos formar público para prestigiar, comprar de empreendedoras, fortalecer negócios, ler, ouvir e remunerar bem. Respeitar os direitos das mulheres negras e garantir que estejam em espaços de poder, com mais políticas públicas", defende Jaqueline.
17 anos de trajetória
A 17ª edição do Latinidades começou em Salvador, entre 5 e 7 de julho. Além das terras baianas, neste ano, o festival passará por Goiás, Brasília e São Paulo. Além disso, haverá uma ação internacional em Londres.
O encontro nasceu, em 2008, de um sonho de realizar o primeiro festival de mulheres negras do Brasil no lugar em que, embora muitas vezes invisibilizadas, elas são maioria: na capital do país. Segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD 2021), mulheres negras correspondem a 28,7% dos habitantes do DF. Em seguida, estão homens negros (28,4%), mulheres brancas (23,3%) e homens brancos (19,1%).
De acordo com Jaqueline Fernandes, a ideia do Festival surgiu de um incômodo com a falta de representatividade das mulheres negras do DF e do desejo de fazer a população conhecer o significado do dia 25 de julho, Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
“A gente tinha um olhar muito local no início. Mas logo na primeira edição a gente percebeu que infelizmente não era uma questão só do DF. Era uma questão das mulheres negras em todo mundo, essa falta de reconhecimento e visibilidade, e necessidade, então, de criar nossos próprios espaços para formar nosso público, ter o reconhecimento que a gente merece, garantir nossas políticas públicas e mostrar a potência das mulheres negras”, relata a idealizadora.
Outras iniciativas de celebração e empoderamento surgiram ao longo do tempo, como o Julho das Pretas, pensado e criado por uma rede de mulheres negras do Nordeste, que também se expandiu para todo o Brasil.
Em 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que institui o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando uma mulher quilombola, símbolo de resistência e luta contra a escravização.
“Tem muito a ser feito ainda. O racismo e machismo são cruéis, estruturais, sistêmicos. Mas o movimento de mulheres negras, como diz Vilma Reis e Sueli Carneiro, é sem dúvida um dos movimentos sociais mais bem sucedidos do Brasil, que segue dando a linha do que é ser progressista, empurrando a esquerda mais para a esquerda”, define Jaqueline.
Programação multilinguagem e gratuita
O Latinidades traz uma programação multilinguagem gratuita, com atividades formativas e artísticas, shows nacionais e internacionais, stand-up comedy e desfiles. Além disso, o evento tem um olhar especial para as mães, com espaço infantil. “Afeto, formação política, intelectual e afetuosa: é isso que a gente pode esperar em mais uma edição da nossa casa de mulheres negras”, afirma a idealizadora.
Em Brasília, o encontro acontece de 25 a 27 de julho, no Museu Nacional da República, com programação extensa de palestras, oficinas, shows, feiras, exposições, exibições e outras atividades. Serão discutidos temas como a prática de trançar enquanto patrimônio cultural e economia criativa e mulheres negras na mídia.
No dia 27, acontece o IV Julho das Pretas que Escrevem no DF. O objetivo do encontro é mapear e reunir o maior número de mulheres negras que escrever na capital federal, para fortalecer laços e compartilhar produções.
A programação musical conta com nomes de renome nacional e internacionalmente. Na sexta (26), sobem ao palco o projeto Nós Negras e a cantora Sandra de Sá. No sábado (27), quem comanda a cena são as cantoras Alaíde Costa, Bia Ferreira, La Dame Blanche (Cuba), Sister Nacy (Jamaica), Gaby Amarantos, Ebony Pongo (Angola) e Irmãs de Pau.
Confira a programação completa:
25 de julho (quinta-feira)
14h às 16h | Debate: Trancistas - patrimônio cultural, economia criativa e trabalho
19h | Abertura da exposição: Afrolatinas - 30 anos em Movimentos
20h | Sessão Premiere do documentário Afrolatinas – 30 anos em Movimentos
26 de julho (sexta-feira)
14h às 16h | Debate: Mulheres Negras na Mídia: Inovação e Impacto na Comunicação Pública
16h30 às 18h30 | Aula show: Folha Funciona, com Sueide Kintê e Sueli Kintê
19h | Afro Fusion Modeling
19h30 | Mostra Humor Negro
21h | Show - Nós Negras
22h | Show - Sandra Sá
27 de julho (sábado)
14h às 20h | Latinidades Kids
14h às 17h | IV Julho das Pretas que Escrevem no DF - Nosso lugar é de fala
19h | Shows
19h | Alaíde Costa
20h | Bia Ferreira
21h | La Dame Blanche (Cuba)
22h10 | Sister Nacy (Jamaica)
23h20 | Gaby Amarantos
0h30 | Ebony
1h10 Pongo (Angola)
2h20 Irmãs de Pau
Intervalos: Dj Kethlen e Dj Savana
Confira mais detalhes da programação aqui.
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Edição: Rafaela Ferreira