Distrito Federal

Racismo religioso

Ministério Público requisita que PMDF investigue invasão de policias a terreiro em Planaltina

Segundo o MPDFT, a Polícia Militar tem o prazo de dez dias para instaurar a investigação

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Procedimento de investigação preliminar deve ser aberto para apurar a invasão de um terreiro religioso por policiais militares, em Planaltina - Foto: Reprodução

A 3ª Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) requisitou que a Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) instaure procedimento de investigação preliminar para apurar a invasão de um terreiro religioso, por policiais militares, em Planaltina, durante a captura de um suposto traficante de drogas. Segundo o MPDFT, a Polícia Militar tem o prazo de dez dias para instaurar a investigação.

A Casa Ilê Asé Omin Yeminjá Ogunté foi invadida pela PMDF na noite de 23 de julho, por volta das 18h30, durante a captura de um homem que, supostamente, traficava drogas em via pública. Em uma das filmagens divulgadas, o homem já entra no terreiro ferido na cabeça e algemado. Em outro vídeo, agentes da corporação proferem palavrões contra as pessoas que estavam no local.

Segundo o Ministério Público, a requisição do Ministério Público, dada na última quinta-feira (25), foi motivada a partir de notícias publicadas na imprensa.

Relembre o caso

A invasão foi gravada por membros do terreiro e, de acordo com vídeos divulgados, o homem, já algemado, entrou no local perseguido pelos policiais. Nas imagens, é possível ver quando um agente da Polícia segura o suposto suspeito pelo braço, que estava com ferimentos na cabeça. Em outro momento, outros policiais pulam o muro do terreiro em busca do homem.

Já em outra filmagem, agentes da PMDF começam a proferir palavrões contra as pessoas que estavam no local. Em um dos vídeos, é possível ouvir o policial falando “macumbão” para os membros do terreiro. "Sem nenhuma preparação, arrombaram o portão, invadiram o terreiro, que estava em função, adentraram os quartos de santo e chamaram o nosso espaço sagrado de inferno", mostra uma das publicações feita pela Casa nas redes sociais.

Ao Brasil de Fato DF, o Pai Uanderson, líder religioso da Casa Ilê Asé, conta que, quando a abordagem começou, ele estava no pátio do local fazendo uma limpeza espiritual. Segundo ele, o foragido é irmão biológico, porém, ele não faz parte da religião.

“O detido é meu irmão, mas nem mora aqui. Não sou a favor disso. Se errou, tem que pagar. Não apoiamos isso. Mas, agora, é diferente bater e espancar uma pessoa que já estava no chão. Foram mais de 15 policiais invadindo e profanando minha fé”, relata Uanderson, também, em um vídeo publicado nas redes sociais.

Em novembro de 2022, a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras apresentou um mapeamento do racismo religioso no Brasil, no qual representantes de 255 terreiros de todo o país foram ouvidos. Quase a metade registrou até cinco ataques nos dois anos anteriores ao estudo.

"Eu queria saber se, caso fôssemos uma igreja católica ou evangélica, eles realmente teriam essa conduta. Se eles teriam esse ato de intolerância religiosa, de racismo. Queria saber se eles agiriam dessa forma", destaca Uanderson.

Procurados pelo Brasil de Fato DF, a Polícia Militar do DF informou que, através do Grupo Tático Motociclístico (GTM-34), foi feita a prisão de um homem que realizava tráfico de drogas em via pública. Segundo a nota, durante a ação, moradores locais, aproximadamente 20 pessoas, tentaram intervir, buscando resgatar o suspeito da guarnição.

"A ação foi rapidamente controlada com a chegada de apoio policial, garantindo a segurança dos agentes e a continuidade do procedimento. O irmão do homem preso tentou obstruir a detenção, mas também foi contido pelos policiais. Outro homem foi preso por favorecimento pessoal e resistência. O detido foi conduzido à 16ª delegacia para os procedimentos legais", diz a polícia.

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Edição: Márcia Silva