Distrito Federal

Defesa da educação

Seminário do Sinpro aborda capacitismo e visão médica da deficiência na educação da rede pública

Durante palestra, especialistas abordaram sobre os problemas na educação inclusiva na rede pública do DF

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Seminário teve como objetivo fomentar o debate dentro das escolas e aprimorar a atuação dos profissionais do magistério para enfrentar problemas graves que têm sido identificados - Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF

O Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) realizou nos dias 2 e 3 de agosto, o seminário “Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva” na sede da entidade, em Brasília. De acordo com o sindicato, a discussão faz parte de uma campanha por mais investimento na educação inclusiva, diante do atual cenário de turmas superlotadas, falta de monitores, de professores e orientadores educacionais no quadro efetivo, do desmonte das salas de recurso. Com isso, o evento foi um instrumento de luta em defesa da educação inclusiva no DF.

Segundo o sindicato, atualmente, quase todas as turmas nas escolas públicas do DF têm estudantes da educação inclusiva. Com isso, o seminário teve como objetivo fomentar o debate dentro das escolas e aprimorar a atuação dos profissionais do magistério para enfrentar problemas graves que têm sido identificados.

Para Claudio Antunes, da Secretaria de Políticas Educacionais do Sinpro, o cenário na Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) é preocupante, especialmente nas salas de recursos. Ele ressaltou que, apesar da recente nomeação de três professores pelo Governo do Distrito Federal (GDF), a falta de profissionais na rede pública ainda é um desafio.

“Apesar da nomeação ser importante, não supre nem metade do que precisamos. Nas salas de recursos, há falta de professores interessados em atuar nessa frente. Para o sistema funcionar, precisamos, na regência, de 23 mil professores. Mesmo com a contratação, ainda teremos 15 mil professores em regime temporário,” explicou Antunes.

No sábado, a programação contou com um debate sobre as problemáticas na rede pública e o capacitismo, destacando como as expressões capacitistas usadas no dia a dia e a visão biomédica sobre a deficiência na sociedade podem ser um impeditivo para a educação inclusiva.

:: Renovado, programa para pessoas com deficiência pretende 'dar basta' ao capacitismo e ampliar acessos ::

Além da escassez de profissionais, um dos pontos destacados durante o evento foi o uso de palavras capacitistas no dia a dia. Andréa Medrado, colunista do Brasil de Fato DF, ativista e membro do grupo Pitt-Hopkins Brasil, ressaltou que o capacitismo é uma questão estrutural e que todos estão suscetíveis a reproduzi-lo, seja de forma consciente ou inconsciente.

“Presumem que minha filha não entende nada por não falar. O capacitismo pode se manifestar em pressupostos inconscientes e conscientes, como o uso de palavras no diminutivo. Essa infantilização afeta as pessoas. Ninguém está imune a reproduzir o capacitismo, que está vinculado à questão de poder sobre os corpos, assim como outras opressões; ele é estrutural,” afirmou Medrado.

Ela também destacou que as palavras e termos são políticos, e, portanto, é essencial usá-los corretamente. “Ainda vejo muitas matérias da Secretaria de Educação com palavras inadequadas. O capacitismo começa daí, já que esses termos vêm carregados de conotações pejorativas e reforçam o olhar biomédico sobre a deficiência,” acrescentou.

Visão médica na educação

Durante o seminário, também foi abordado que, enquanto a escola deve ser um espaço de educação, o modelo biomédico tende a tratar a deficiência como um problema a ser corrigido, o que pode criar barreiras para a inclusão escolar. Andréa explica que a ideia biomédica cria barreiras na educação escolar, porque cria a ideia de que existem estudantes incapazes.

Alexandre Mapurunga, diretor de Políticas de Educação na Perspectiva Inclusiva do Ministério da Educação, explicou que, a preocupação é que, muitas vezes, as soluções para os problemas enfrentados na educação inclusiva vem revestida de outras perspectivas que olham a pessoa com deficiência através do chamado "modelo de normalização". "É uma forma que não enxergam uma diversidade como um valor, e sim como um problema", explica Mapurunga.

“A educação inclusiva tem a obrigação de educar a todos sem diferenciação, mas também de proteger os estudantes com deficiência de qualquer tipo de discriminação. O conceito de capacitismo é uma palavra-chave no contexto de discriminação, afirmou Mapurunga. Ele ainda destacou que a educação não deve ser reduzida a um espaço de normalização ou cura, mas sim valorizada como um ambiente que reconhece e respeita a diversidade humana.

“A política de educação inclusiva é contra-hegemônica. Não podemos desvincular a educação inclusiva da educação emancipatória. As pessoas com deficiência não precisam se normalizar para ter direito à educação,” concluiu Mapurunga.

O seminário também contou com uma apresentação cultural do artista Felipe Costa e do DJ Marola. 


Apresentação cultural durante seminário / Foto: Rafaela Ferreira/Brasil de Fato DF

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Márcia Silva