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Ainda sobre o Dia dos Pais

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"Homens também são capazes de cuidar, de amar e de educar assim como as mulheres." - Reprodução
Cuidado tem que ser dividido, em conjunto, coletivo. Cada um com seu papel sem sobrecarregar ninguém

Vocês perceberam que o mês de Agosto não é conhecido como mês dos pais, assim como o mês de maio, é popularmente conhecido e intitulado de mês das mães?

Talvez um dos motivos para que não seja falado tanto sobre a paternidade é que pra milhares de pessoas a palavra “PAI” pode vir associada à abandono. Nem sempre a palavra pai vem associada a amor.

Mas se compararmos ao mês de Maio, a paternidade não é incentivada, debatida nem discutida como a maternidade. Um dia já basta, afinal, o homem-pai que leva pra brincar, passear e aprende a trocar fralda, já está fazendo o máximo.

Ou no caso da paternidade atípica, se o homem-pai leva o filho/filha pra terapia ele é aclamado! Já que a realidade não é essa. Se você chegar numa sala de espera de clínica de terapias multidisciplinares vai poder ver e comprovar quem são as pessoas que levam e ficam com as pessoas com deficiência: são as mulheres. Sejam as mães ou avós ou tias ou cuidadoras pagas que costumam ocupar o papel do cuidado.

Não é comum ver um pai deixar de lado sua profissão e o mercado de trabalho pra cuidar de um filho com deficiência.

Uma pesquisa do Instituto Mano Down aponta que 73% dos pais abandonam os filhos com deficiência intelectual antes de completarem 5 anos de idade.

Mas para aqueles que ficam e não abandonam seus filhos, é necessário assumir a paternidade na sua totalidade. Não somente levar pra brincar, é preciso dividir a responsabilidade junto com a mãe de criar, educar e cuidar. E isso quer dizer assumir as inúmeras atividades que demandam esse papel. Porque muitas vezes vemos o mínimo que um pai faz sendo vangloriado pela sociedade.

:: Será que todas as maternidades são representadas, valorizadas e vistas? ::

E o máximo que uma mãe faz é visto como algo que não passa da obrigação dela, afinal como diz um ditado popular “quem pariu Mateus que balance.” Mas esse ditado só é válido pra mãe, já perceberam isso?

Esses dias, o filho de uma amiga usou a expressão pra resumir o que ele sentia em relação ao pai: “órfão de pai vivo”. Seu pai o abandonou com a mãe e ele finalizou o pensamento dizendo pra mim: “mas tia, ele não morreu, só não gosta de mim nem me quer por perto!”. Doloroso, mas é a realidade esmagadora de muitas pessoas que acabam tendo a mãe como a única responsável por amar, dar afeto e prover financeiramente. 

Historicamente, homens são ensinados a não precisarem assumir o papel de pai e a responsabilização pela educação das crianças, uma vez que cuidar é papel da mulher.

E muitas vezes, nós mulheres, devido a crenças e práticas culturais que são repassados de geração pra geração, acabamos por acreditar que a maternidade é uma esfera de poder e que perderemos se os homens participarem igualmente da educação dos filhos.

Se faz urgente e necessário que adotemos também o mês de Agosto como “mês dos pais”, para que haja muito mais debate e ações dos homens que possam assumir o protagonismo de seu papel como pai e a sua importância na vida dos filhos. Para que haja a quebra de ciclos destrutivos que fazem filhos e filhas chorarem ausências. E fazem muitas mães chorarem por seus filhos e por criarem os seus desamparadas e completamente solitárias.

Um mês para se repensar sobre essa cultura que desresponsabiliza os homens em relação ao cuidado e o educar.

Homens também são capazes de cuidar, de amar e de educar assim como as mulheres.

Eles também são capazes de marcar e levar o filho na consulta com pediatra, de virar a noite cuidando da filha doente, também são capazes de ficar “só” em casa cuidando, são capazes de olhar e zelar pelas filhas quando saem pra uma festinha, também podem lembrar de dar o remédio, de arrumar as coisas pra escola, de acordar cedo e preparar o café.

Porque cuidado tem que ser dividido, em conjunto, coletivo. Cada um com seu papel sem sobrecarregar ninguém. 

Pra finalizar deixo as palavras de bell hooks sobre a parentalidade, para uma reflexão crítica e ativa: “Os homens não participarão igualmente na educação até lhes ensinarem, se possível desde pequenos, que a paternidade tem o mesmo significado e importância que a maternidade.”

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*Andréa Medrado é ativista, mãe típica e atípica, membro do grupo Pitt-Hopkins Brasil.

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino