Após dois mandatos da primeira mulher, Márcia Abrahão, a conduzir a Reitoria da Universidade de Brasília, o novo pleito para o cargo é novamente histórico. A consulta à comunidade acadêmica de 2024 possui três chapas, todas sendo lideradas por uma mulher de diferentes áreas e formações.
A enfermeira e professora Fátima Sousa, associada do Departamento de Saúde Coletiva da UnB, é cabeça da chapa 99, "A UnB que Queremos", que tem como candidato a vice-reitor, Paulo Celso dos Reis Gomes.
Na esfera da administração pública, Fátima sempre exerceu funções relacionadas à sua área de assistência em Saúde. Ela desempenhou o papel de coordenadora nacional do programa de Agentes Comunitários de Saúde de 1994 a 2001. Além disso, Fátima atuou como assessora na Secretaria de Saúde de São Paulo, colaborando nas gestões de Luiza Erundina (1989) e Marta Suplicy (2001). Em 2018, Fátima Sousa concorreu ao governo do Distrito Federal pelo PSOL, quando obteve 65.648 votos e ficou em sétimo lugar na disputa.
Sua trajetória acadêmica inclui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal da Paraíba, onde fez residência em Medicina Preventiva e Social e mestrado em Ciências Sociais. Concluiu doutorado em Ciências da Saúde na UnB e pós-doutorado na Universidade Nova de Lisboa e na Université du Québec à Montréal. Com mais de 100 artigos científicos e 74 publicações, além de supervisões acadêmicas em diversos níveis, Fátima continua a contribuir para o campo da saúde pública.
A Consulta à Reitoria da UnB acontece nos dias 20 e 21 de agosto. O voto é paritário entre docentes, estudantes e técnico-administrativos. Após a Consulta, o Conselho Universitário (Consuni) deve ratificar o resultado e elaborar a lista tríplice com os nomes das candidatas a Reitora e Vice-Reitor.
A lista é então enviada ao Ministério da Educação, que a encaminha para o Presidente da República, que deve também respeitar o processo de consulta e nomear a Reitora com mais votos. A próxima gestão assume o comando da UnB por quatro anos, de 2024 a 2028. De acordo com dados da universidade de 2022, a UnB conta com uma comunidade formada por mais de 54 mil pessoas.
O Brasil de Fato DF entrevistou as três candidatas, com perguntas elaboradas pela Redação e por cada segmento da comunidade acadêmica (docentes, estudantes e técnico-administrativos). As candidatas responderam às mesmas perguntas sobre participação política das mulheres, orçamento, cotas, permanência estudantil, saúde mental, além das elaboradas pelos segmentos. Confira.
Participação política das mulheres
Brasil de Fato DF - Essa é uma eleição histórica para a Universidade de Brasília, pela primeira vez três mulheres concorrem ao cargo de Reitora. Como avalia essa questão da participação das mulheres nos espaços políticos de poder, qual a importância dessa representação?!
Fátima Sousa - Tenho dito em todos os debates onde eu tenho participado, nas visitas às nossas unidades e aos nossos três campi descentralizados, que isso é uma festa da democracia, pois estamos lutando para que haja mais mulheres no poder. Ter três mulheres do campo democrático, e no meu caso, que venho e sou instituída e constituída pelo campo da esquerda brasileira, é um avanço para a Universidade de Brasília. Isso aponta para o futuro do que estamos conquistando, dando cada vez mais espaço para mulheres, especialmente professoras, pesquisadoras e extensionistas. É, portanto, algo para se comemorar, uma verdadeira festa da democracia.
Orçamento
Nos últimos anos, os cortes orçamentários impactaram muito a gestão das universidades brasileiras, como pretende atuar nessa questão?!
Olha, os cortes dos últimos seis anos foram muito agressivos, eu diria, não só por conta da Emenda Constitucional 95. A cada ano, a cada exercício orçamentário, a gente vê que o corte sempre cai na Saúde, sempre cai na Educação, duas áreas muito fundamentais para a nossa universidade. O que nós pretendemos fazer? O governo já está sinalizando que acabou com a Emenda Constitucional 95, mas está fazendo um ajuste fiscal. E de igual maneira, nós temos que estar preparados para enfrentamento de possíveis cortes cada vez mais.
O que vamos fazer? Primeiro, que a nossa gestão, enquanto reitora, não vai ficar sentada esperando que o MEC (Ministério da Educação) corte cada vez mais, mas vamos seguir, como sempre defendendo mais recursos para a nossa universidade. Segundo, precisamos também ter inteligência suficiente e fazer a disputa do recurso da União, não só na LOA (Lei Orçamentária Anual), que é um recurso que vem quase mais da metade dele para pagamento de pessoal, e todo o resto é investimento cada vez mais declinante. Mas também temos que utilizar inteligência para disputar o recurso de emendas parlamentares, disputando não apenas individualmente, mas também em bancadas e comissões, além de aproveitar o patrimônio que Darcy Ribeiro nos deixou, de fonte própria, para que possamos reinvestir esse recurso em nossos projetos de pesquisa, extensão e também revisitar nossas salas de aula para garantir um financiamento sustentável.
Vai ter cortes, tudo indica, vai ter cada vez mais esse ajuste fiscal, mas a nossa diferença é que vamos colocar o orçamento da nossa UnB, especialmente a fonte própria, para realimentar a nossa missão de ensinar, pesquisar e ter projetos de extensão. Nós estaremos na luta, viu? Não vou ficar sentada na cadeira de reitora. Pode marcar isso aí.
Permanência Estudantil
As cotas foram essenciais para possibilitar o ingresso de mais estudantes pobres, negros e indígenas – e mais recentemente quilombolas –, tornando a UnB mais plural. O desafio agora é manter esses alunos na universidade. Quais são as propostas da chapa para a permanência estudantil dos cotistas, especialmente dos alunos indígenas e quilombolas?
Nós temos várias propostas na Carta de Compromisso em relação à permanência. Porque não só defendemos a democratização do acesso e do ensino, como nós fomos, eu e Paulo, temos histórico de defesa incondicional para que estejam aqui os estudantes da periferia, que estejam aqui as meninas e os meninos do ensino médio e do ensino fundamental. Mas precisamos ter uma política integrada para que eles permaneçam, e não é uma permanência sofrida.
Se os estudantes não têm uma casa universitária que os receba, de forma que eles se sintam, não um lugar para dormir, mas a sua casa, a sua residência durante toda a sua permanência aqui, esses estudantes tendem a ir embora. E digo isso, porque eu vivi em casa universitária na Universidade Federal da Paraíba e sei o sentido de morar em uma casa universitária. Da mesma forma, precisamos ter uma política de alimentação. Repito, também vivi de restaurante universitário. A diferença é que nós não pagávamos nada. Nós, que vivíamos em uma situação socioeconômica vulnerável, nos alimentávamos a custo zero na UFPB.
A questão do restaurante universitário, não só para o campus Darcy Ribeiro, mas para os três campi descentralizados, é uma agenda centralizada para nós. Está no eixo número um, as pessoas em primeiro lugar. Vamos, primeiro, revisitar o contrato que essa universidade fez para sair de um aumento de R$ 2,50 para R$ 6,10. Mas tem uma coisa que ninguém prestou atenção, que a Reitora aprovou no Consuni de uma discricionariedade de aumentar o restaurante conforme a inflação. E isso recai sobre os mais vulneráveis, que são os estudantes cotistas que chegam na nossa casa. Então, eu e o Paulo, vamos revisitar esses contratos.
Mas também vamos utilizar os bens que Darcy nos deixou, a exemplo da fazenda, para que a fazenda possa produzir alimentos e a gente possa, não só revisitar os contratos, mas subsidiar esse restaurante com alimentos orgânicos produzidos na nossa própria fazenda. De novo, caminhamos para a taxa zero. Também vamos fazer parceria com a agricultura familiar, em especial com as mulheres da agricultura, para que, em vez de alimentar uma indústria de alimentação, possamos trazer para cá, inclusive a Cozinha Solidária, onde nós almoçamos com eles, e ter um potencial imenso, novamente caminhando para a taxa zero.
Então, são uma série de iniciativas que estamos fazendo para que esse aluno permaneça aqui. No plano didático pedagógico, eu fiz isso aqui na Faculdade de Ciência da Saúde. Quando o aluno chegava, eu não conseguia fazer, porque a administração central não permitiu, e a rigidez curricular também não permitiu, que o aluno permanecesse aqui, o que eu chamei de semestre zero. O que é o semestre zero? É chegar e conhecer esse ambiente, se apropriar desse ambiente. É uma passagem muito dura entre o ensino básico, o ensino médio, fundamental, e chegar aqui e se deparar. Não é só um tour. Ah, acolhi meu aluno, mas o aluno num tour? Um dia, dois dias que está, uma semana? Não. Seis meses é o tempo suficiente. Mas qual foi a estratégia que nós adotamos que deu certo? A gente fez um sistema de mentoria. O aluno, entre o quinto e o sexto semestre, recebia os alunos que chegavam, e acompanhava esse aluno na sua itinerância formativa.
Mas também é preciso, em especial, fazer um processo de formação com nossos colegas professores, para que eles compreendam o perfil dos meninos e das meninas que aqui chegam, que são perfis diferentes. Se não tratarmos os diferentes como eles são, para garantir a equidade e superar as desigualdades, estamos tratando todos como se fossem iguais, o que não é verdade. O negro da periferia, as meninas da periferia, e agora tem mais, 60 mais, precisam de um apoio, eu diria, até ousadamente personalizado. Recebo alunos na minha disciplina de políticas públicas indígenas, que não sabem mexer no sistema de formação. Recebo população, na minha disciplina, com mais de 60 anos, que não têm habilidade com tecnologias. Então, é preciso ter o letramento digital.
Uma coisa que deu certo na Faculdade de Saúde, que vamos fazer e que deu certo na Faculdade de Tecnologia, é acompanhar o aluno ao longo de sua permanência, mas começando a fazer a discussão, aqui eu chamei de “por onde anda você”, de trazer os egressos para contar para esses meninos que estão chegando qual é o mundo da empregabilidade. O mundo está mudando. A forma de entrar no mercado de trabalho não é a mesma de quando Darcy criou isso aqui.
Então, temos que fazer esse diálogo muito respeitoso, mas muito assertivo, de como esses meninos ao saírem daqui terão garantia de emprego. Para isso, precisamos começar com as empresas juniores, parcerias com a público-privada, responsiva e clara, para garantir esses alunos. Porque eu te digo uma coisa, quando eu diplomava os meninos aqui, era uma festa imensa, mas na hora da despedida, os pais, as mães, todo mundo chegava e dizia: "Professor, amanhã é um dia triste, porque eu não sei se os meus meninos vão entrar no mercado de trabalho". Não é uma única iniciativa para permanecerem aqui, é um conjunto de ações que eu chamo de uma política sustentável para que os alunos permaneçam nessa nossa casa.
Cotas no Serviço Público
Ainda no debate sobre as cotas, a UnB tem um papel histórico na implementação de cotas raciais para estudantes, mas existe ainda uma lacuna quando se trata de professores negras e negros na universidade. Qual a proposta da chapa para a efetividade da implementação da Lei de Cotas no Serviço Público?!
Primeiro, nós somos só variáveis as cotas, você sabe disso. Segundo, todos seguiremos defendendo que a entrada de colegas professores deve obedecer a cota de no mínimo 30% de sua entrada. Da mesma forma para os técnico-administrativos, não só para o professor, para os técnico-administrativos. E não digo isso tão somente porque defendemos a cota que colocamos no decreto presidencial, nós defendemos por princípio. Essa universidade tem que ter multi cores.
O fato de você ter professor negro, técnico negro e ter mais estudantes negros nos auxilia a acabar com o racismo estrutural. Porque não é apenas o letramento, é o letramento, mas ele vai ser o princípio da igualdade e da superação do racismo estrutural; eles estarão presentes nas nossas disciplinas da graduação à pós. Tanto é que quando coordenei os programas de pós-graduação aqui, nós instituímos cotas para entrada no mestrado profissional, no mestrado acadêmico, no doutorado profissional. Então essas são as iniciativas que precisamos reafirmar quando ganharmos a reitoria da Universidade de Brasília.
Saúde Mental
De acordo com dados obtidos pelo Brasil de Fato DF por meio de LAI, entre janeiro e junho de 2024, a Coordenação de Atendimento Psicossocial da UnB atendeu 196 pessoas (estudantes, docentes e TEA) com alguma queixa de saúde mental. As principais demandas foram ansiedade e depressão. Quais as propostas da chapa para o acolhimento e prevenção do adoecimento mental da comunidade acadêmica - estudantes e técnico-administrativos e docentes?
Vou te dar um dado novo. Pedimos também o acesso à LAI. A gente percebeu que nos últimos 12 meses, 573 servidores da universidade se afastaram. São 12 mil dias de afastamento no total deles. E desses, em torno de 80% foi por adoecimento mental. Então, o número é assustador. Isso demonstra que estamos com a comunidade em adoecimento. É uma questão,pedimos (dados) nos últimos cinco anos, é uma tendência isso aí, não aconteceu de um ano para o outro, é uma tendência que vem se repetindo. Então, a comunidade está adoecendo, esse adoecimento mental é uma realidade. E cabe a nós enfrentar isso, você ver efetivamente quais são as causas. Tem várias formas de melhorar esse acolhimento aqui, já falamos da questão da permanência, mas a gente tem também o lado de você fazer todo um sistema de bem-viver na universidade, qualidade de vida.
A qualidade de vida perpassa por várias coisas, mas o nosso eixo 6, que eu gosto muito de falar dele, que é o eixo do esporte, arte e cultura. Então, você trazer de novo um calendário de esporte, arte e cultura na universidade para essas pessoas poderem ter, a universidade já teve isso, foi minguando na pandemia, depois acabou, hoje a gente basicamente não tem. Tem um calendário oficial de esporte e arte e cultura com competições esportivas, com exposições de arte, com festivais de música, festivais de teatro, você tem um calendário de festas aqui dentro para as pessoas poderem interagir de forma social aqui na universidade. Isso cria os laços interpessoais, isso facilita muito, o evento em si já é seu valor intrínseco, mas você tem a questão do outro benefício, que é um benefício, digamos, colateral, é promotor de saúde, é prevenção de saúde, você ter essas atividades de esporte e arte e cultura.
E do outro lado, você ao ocupar os espaços com esses eventos, você também gera segurança no campus. Então, é um evento que tem um benefício triplo, com um investimento único. Não temos que proibir as festas, temos que ver como é que a gente regra as festas, mas não proibir. Não temos que proibir eventos, temos que oportunizar mais eventos aqui. Então, esse é um eixo fundamental para a gente, inclusive o próprio RU, o Restaurante Universitário, um local que pode de entretenimento. Nós já fizemos parte do circuito de cinema da cidade, hoje em dia não temos uma sala de cinema aqui, não tem uma sala de teatro, não tem uma sala de concertos musicais. Por trás dessa questão do adoecimento, queremos fazer essa promoção da saúde.
Em relação ao adoecimento em si, temos uma proposta que alguns estão dizendo que é radical, mas não é radical. Nós temos o Hospital Universitário de Brasília e ele não atende a nossa comunidade, ele não tem um sistema ambulatorial. Então, a nossa proposta é que o Hospital Universitário (HUB) passe a atender a comunidade de Brasília. Já fez isso no passado, outros hospitais universitários do Brasil fazem isso com as suas comunidades acadêmicas.
Então, ele passa a atender as comunidades de forma a ter um atendimento mais próximo, para poder ter esse acolhimento rápido. Por exemplo, o absurdo hoje em dia, uma enfermeira, se passar mal no Hospital Universitário, uma enfermeira do HUB, ela vai chamar o SAMU para vir buscar ela dentro do HUB e levar para o HRAN (Hospital Regional da Asa Norte). Está meio fora de padrão isso, queremos trazer isso para uma humanização dessa relação de trabalho.
E não é radical, de igual maneira, que nós temos o melhor curso de psicologia, o melhor curso de enfermagem, o melhor curso de saúde pública, saúde coletiva, o melhor curso de serviço social, e nossa população adoecer. Não só tendo o locus do Hospital Universitário, nós vamos construir aqui uma Unidade de Atenção Básica que está em vias de ser inaugurada, numa relação estreita com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, mas pretendemos fazer o que eu fiz aqui, quando diretora da Faculdade de Saúde, nós tínhamos uma comissão que fazia o aconselhamento dos alunos, que nós chamamos de apoio psicossocial, porque cada um traz em si a carga da sua origem, de onde ele vem. E se ele não é compreendido aqui, seja pelos seus colegas alunos, que eles se abrem muito mais, essa coisa que eu te falei da mentoria, mas também do colega professor. Nós temos uma fichinha aqui, todos os nossos colegas sabiam que o Pedro, Antônio, a Maria vinha para cá com determinada situação, com um determinado risco de poder adoecer aqui.
Eu e o Paulo não vamos abrir mão de que cada unidade, todos os campi, tenham essa parceria com os cursos para apoiar esses meninos. Nós temos aqui o curso da medicina, também é um curso muito bom, residentes podem entrar nesse grupo de aconselhamento, os meninos que fazem psiquiatria, se já tiver detectado problemas mentais graves, que precisam ser tratados, mas nós precisamos evitar.
Ação de prevenção é o melhor remédio. Aí sim, podemos dizer, como enfermeira eu faço questão, cada unidade tem um espaço de apoio psicossocial, vamos radicalizar que tenha um apoio psicossocial na casa universitária, vamos definir espaço de atendimento no hospital universitário, nessa unidade básica que será criada, mas mais do que isso, nós vamos criar um sistema de monitoramento, acompanhamento e avaliação dos nossos alunos que chegam aqui. E faço o pezinho de página, não é razoável que um aluno nosso escolha a Biblioteca Central - que Darcy dizia, e nós concordamos e acreditamos, que é o centro do pensar, o lugar de encontro, de convivência - para tirar sua vida e tentar contra isso. O que é que está nos dizendo? Vocês não estão prestando atenção na gente, então não precisamos prestar atenção a cada um, e a cada uma que entra nesta casa.
Pergunta da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB)
A Consulta para a Reitoria da UnB significa um importante instrumento de defesa da autonomia e democracia das Universidades Públicas. Neste sentido, qual será a posição da chapa caso não seja majoritária na consulta, quando o Consuni (Conselho Universitário) convocar a eleição para compor a lista tríplice?
O primeiro da lista deve ser nomeado. Não apenas por princípios democráticos, mas por respeito às nossas entidades que ouviram a comunidade com regramento e democracia. Portanto, não faz sentido não respeitar essa lista. Em 2020, eu e a professora Elmira, da Faculdade de Ciência da Informação, provocamos o DCE para que assinássemos uma carta compromisso de que nenhuma das três pessoas na lista seria assumida se não fosse a primeira da lista.
Eu estive nas ruas lutando pelas Diretas Já! e tive meu corpo marcado pela luta pelos direitos humanos, então não estou aqui para diminuir o valor da nossa democracia. O exemplo de 2020 nunca deve se repetir. Devemos respeitar nossas entidades e aqueles que criaram a nossa universidade. Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira fundaram a Universidade de Brasília para fazer de conta que faz consulta e depois não colocar na lista para aprovação. Portanto, das três pessoas na lista, quem será nomeada será a primeira da lista, e não abriremos mão disso.
Pergunta do Diretório Central dos Estudantes da UnB Honestino Guimarães (DCE/UnB)
Candidata, poderia detalhar suas estratégias para reintegrar o programa do ônibus intercampi? Considerando as limitações legais mencionadas pela gestão atual e os desafios relacionados à alocação de recursos, quais serão seus passos específicos para superar esses obstáculos de locomoção?
Fátima de Souza: Não há questões de legalidade. Sabemos disso perfeitamente. Eu considero isso uma perversidade. Nós criamos os três campi (Gama, Planaltina e Ceilândia). Eu fui co-criadora da Faculdade de Ceilândia (especializada em ciências da saúde). Uma das coisas que nós dissemos era a possibilidade e o dever da Universidade de Brasília de ter o intercampi por vários motivos. Primeiro, para garantir a transição entre os quatro núcleos de ensino. Segundo, a possibilidade de os alunos virem para cá não só para essa convivência amistosa entre técnicos, colegas professores e estudantes, mas também para que eles pudessem fazer suas disciplinas em modo livre, como disciplina optativa, ou até mesmo em disciplina obrigatória.
Na minha disciplina, recebi vários alunos de todos os campi. Nós vamos retomar o intercampi, sim. Isso é uma ação prioritária, número zero, se assim puder dizer. Mas não baixem o intercampi. onde deixamos claro quais são os principais recursos que entram na universidade e para onde eles vão. Para onde eles vão é para os estudantes.
Com o deputado distrital Max Maciel pretendemos criar aqui um terminal rodoviário. Porque quem tem curso noturno, eu dou aula no noturno, não tem segurança para esses alunos ficarem aqui esperando horas e horas. Então precisamos, sim, de forma firme, defender esse terminal, mas também garantir que a rota tenha maior fluxo de oferta.
Para isso, é preciso ter coragem para conversar com o GDF. Porque aqui é um ponto de interseção para todas as nossas regiões administrativas, inclusive para os municípios do entorno do DF. Esses alunos chegam aqui e saem por volta das 10h, 10h30 da noite, e se fazem uma disciplina de quatro créditos, como é o meu caso, eles vão chegar em casa de madrugada.
Então, o intercampi vai voltar, a rota interna de ônibus entre os campi vai voltar. E vamos disputar esse orçamento com o GDF para ter o terminal rodoviário e vamos negociar com o GDF para que esse terminal tenha maior fluxo para todas as regiões do Distrito Federal.
Pergunta do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub)
A greve dos técnico-administrativos garantiu conquistas importantes para a reestruturação da carreira, ganhos no contracheque, as 30 horas, o RSC, entre outras. Como a sua gestão pretende garantir a implementação dessas conquistas, a valorização das e dos servidores, sem perder de vista melhores condições de trabalho e o problema do assédio moral?
Sobre o assédio moral que é inaceitável, é um crime assediar as pessoas. Na nossa gestão, assédio moral terá tolerância zero. Em segundo lugar, temos uma série de propostas para valorizar nossos técnico-administrativos. Eu sempre apoiei e estive ao lado dos técnico-administrativos em defesa da valorização da carreira. Devemos também implementar uma gestão horizontal e paritária, não apenas para obedecer às cotas de 30% na administração de mulheres e homens negros, mas para garantir uma gestão participativa. Quando você participa da gestão, sente-se valorizado.
A Universidade de Brasília precisa exercer a pedagogia da exemplaridade em relação ao PGD (Programa de Gestão e Desempenho), que é uma questão importante e que não pode ser negligenciada. A universidade deve se adaptar e atender às demandas dos técnicos administrativos, ouvindo suas preferências quanto ao modelo de trabalho, seja remoto, presencial ou híbrido.
Em relação às 30 horas, nossa proposta é flexibilizar a carga horária, pois o governo federal ainda precisa gerenciar isso junto ao Ministério de Gestão e Inovação. Vamos fazer gestão junto ao MEC para que essa flexibilização seja efetivada. Essas iniciativas visam valorizar concretamente nossos técnicos administrativos, investir em seus processos formativos e garantir que eles tenham salários e condições de trabalho dignos. A Reitora não ficará parada; irá lutar ao lado deles por recursos e valorização.
*A entrevista com Fátima Sousa foi realizada no dia 15 de agosto, conforme agenda disponível da candidata.
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Edição: Rafaela Ferreira