Distrito Federal

GESTÃO 2024-2028

Entrevista | Conheça aspectos do projeto defendido por Olgamir Amancia, candidata à Reitora da UnB

Consulta à comunidade acadêmica será realizada nos dias 20 e 21 de agosto

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Brasil de Fato DF entrevista candidata à Reitoria Olgamir Amancia, professora do campus de Planaltina e atual decana de Extensão - Foto Maurício Carlos

Nos dias 20 e 21 de agosto, a comunidade acadêmica da Universidade de Brasília (UnB) vai participar de consulta para escolha da nova composição da reitoria. O resultado precisa ser posteriormente referendado pelo Conselho Universitário (Consuni) e a nomeação é feita pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Antes mesmo do pleito, a eleição já é considerada histórica por ser a primeira vez em que três mulheres concorrem ao cargo de reitora. O Brasil de Fato DF conversou sobre este e outros temas com as candidatas. 

A atual decana de Extensão, Olgamir Amancia Ferreira, encabeça a chapa "Pensar e Fazer UnB", ao lado de Gustavo Adolfo Sierra Romero, diretor da Faculdade de Medicina e candidato a vice-reitor. A chapa é considerada uma continuidade da atual gestão de Márcia Abrahão. 

Olgamir Amancia é doutora em Educação pela UnB e professora do curso de Ciências Naturais, no campus de Planaltina. Ela foi secretária da Mulher do Distrito Federal durante o governo de Agnelo Queiroz (PT) e candidata à vice-governadora do DF pelo PCdoB em 2022, ao lado de Leandro Grass (PV).

A Consulta à Reitoria da UnB acontece nos dias 20 e 21 de agosto. O voto é paritário entre docentes, estudantes e técnico-administrativos. Após a Consulta, o Conselho Universitário (Consuni) deve ratificar o resultado e elaborar a lista tríplice com os nomes das candidatas a Reitora e Vice-Reitor.

A lista é então enviada ao Ministério da Educação, que a encaminha para o Presidente da República, que deve também respeitar o processo de consulta e nomear a Reitora com mais votos. A próxima gestão assume o comando da UnB por quatro anos, de 2024 a 2028. De acordo com dados da universidade de 2022, a UnB conta com uma comunidade formada por mais de 54 mil pessoas.

O Brasil de Fato DF entrevistou as três candidatas, com perguntas elaboradas pela Redação e por cada segmento da comunidade acadêmica (docentes, estudantes e técnico-administrativos). As candidatas responderam às mesmas perguntas sobre participação política das mulheres, orçamento, cotas, permanência estudantil, saúde mental, além das elaboradas pelos segmentos. Confira.

Participação política das mulheres

Brasil de Fato - DF: Essa é uma eleição histórica para a Universidade de Brasília, pela primeira vez três mulheres concorrem ao cargo de Reitora. Como avalia essa questão da participação das mulheres nos espaços políticos de poder, qual a importância dessa representação?

Olgamir Amancia - O fato de termos três mulheres é extremamente importante porque nós somos a maioria da população, somos maioria aqui no ambiente da universidade. Na graduação, nós somos 50%, mas na pós-graduação somos maioria. Somos maioria dos técnico-administrativos. Então, ter presença das mulheres nesses espaços de poder é importante.

Penso que essa experiência vivida pela Universidade de Brasília neste momento, tem a ver com o fato de termos à frente da gestão a primeira mulher Reitora que fez uma gestão extremamente corajosa e positiva, principalmente diante das ameaças e das dificuldades que ela enfrentou, como o corte de recursos, a pandemia, as ameaças à autonomia da Universidade. O fato de ter uma gestão positiva realizada pelas mulheres permitiu reforçar essa possibilidade de estarmos à frente da UnB. 

Orçamento

Nos últimos anos, os cortes orçamentários impactaram muito a gestão das universidades brasileiras, como pretende atuar nessa questão?

As universidades brasileiras passaram por cortes que não foram cortes quaisquer, são cortes da ordem de quase 50% do nosso orçamento, colocando em risco a universidade. Só que isso também fez com que a universidade, a partir de uma gestão muito ousada, buscasse outros caminhos, que foi a interlocução para fora com os setores, por exemplo, com o Parlamento. Nós trouxemos muitos recursos a partir das emendas parlamentares e penso que é um caminho que podemos e devemos continuar atuando, porque por mais que a gente tenha hoje já uma definição do governo federal de que vai olhar de forma diferenciada para as Universidades – a exemplo do PAC das Universidades – de que nós teremos um aumento de recurso, nós sabemos que esse recurso ainda não será suficiente para atender as demandas da Universidade, então precisaremos continuar atuando em outras perspectivas.

Além da interlocução para fora, com o setor produtivo, com o parlamento e com o próprio governo, é importante que a gente também fortaleça internamente, de maneira que a gente permita e oportunize a captação de recursos com o fortalecimento e desenvolvimento de projetos acadêmicos, de pesquisa, de extensão, que ao serem realizados trazem recursos e ajudaram muito nesse momento que nós vivemos. 

Um outro caminho que também foi muito importante, que agora tem uma potencialidade maior, é relacionado ao nosso patrimônio imobiliário. A Universidade de Brasília tem um patrimônio que vem ali da sua origem, que foi pensado para que a universidade tivesse mais autonomia, e isso foi fundamental nesse contexto que nós vivemos. 

E hoje, como essa carteira imobiliária está bem melhor, porque nós tivemos a reforma de centenas de apartamentos, isso significa o aumento dos recursos próprios vindos também dessa perspectiva. 

Permanência Estudantil

As cotas foram essenciais para possibilitar o ingresso de mais estudantes pobres, negros e indígenas – e mais recentemente quilombolas –, tornando a UnB mais plural. O desafio agora é manter esses alunos na universidade. Quais são as propostas da chapa para a permanência estudantil dos cotistas, especialmente dos alunos indígenas e quilombolas?

A permanência está relacionada a diversos fatores. Um deles de fato é o social e econômico, talvez o preponderante considerando que hoje a nossa universidade tem uma presença maior dos setores das classes populares. Nesse sentido, garantir as bolsas é um movimento com que a gente se compromete. Não só a ampliação do número de bolsas, mas também a equivalência da bolsa assistência com as bolsas Pibex e Pibic. 

Ou seja, fazer com que a bolsa assistência seja de R$ 700 é uma decisão que nós tomamos e entendemos que é possível diante do quadro que nós temos de possibilidade de ampliação de recursos, assim como garantir a mobilidade acadêmica com o retorno do intercampi e a ampliação do intracampus, porque o Campus Darcy Ribeiro é gigante, os nossos estudantes atuam em diferentes espaços. Tem a Fazenda Água Limpa, tem o Hospital Veterinário do Torto, tem a Estação Ecológica, que são vários espaços distintos, e o próprio campus, o espaço aqui é muito amplo. A presença do intracampus é fundamental, inclusive no final de semana.

Além disso, também tem a garantia da segurança alimentar dos nossos estudantes. Hoje, a universidade já atende mais de 11 mil estudantes com três refeições diárias, durante toda a semana. Nós sabemos que é fundamental que a gente reduza o valor que é pago para os demais no Restaurante Universitário (RU), que têm já um subsídio de 60% do valor, mas esse valor não é razoável para que esses estudantes possam permanecer. Então, o compromisso da Chapa 90 é de garantir os 11 mil e tentar ampliar para ter um custo zero na alimentação e que todos os demais estudantes da universidade tenham ampliado o subsídio para que o valor do RU seja reduzido ao máximo.


Brasil de Fato DF entrevista Olgamir Amancia, candidata à reitoria da UnB / Foto: Maurício Carlos

Mas além das condições sociais e econômicas, é importante dizer que existem outras questões que impactam na permanência. O sentido de pertencimento, no sentido de poder perceber como aquele componente curricular ou aquele curso pode contribuir para a realidade, quais são as perspectivas do curso, tudo isso influencia. 

Daí a necessidade de trabalharmos com conhecimento maior sobre as possibilidades dos cursos e o resgate para o currículo de questões relativas à cultura dessa comunidade. 

Hoje, nós temos estudantes quilombolas, indígenas, estudantes da periferia que chegam à universidade e encontram um currículo muito distante da sua realidade. Aproximar o currículo, que é o espaço de formação estruturante, um espaço de poder na definição de como esse estudante será formado, é definitivo. 

No caso dos estudantes PCDs (Pessoa com Deficiência), por exemplo, a universidade precisa se preparar arquitetonicamente para recebê-los, mas a universidade precisa ser preparada também com as tecnologias assistivas, com metodologias e com pedagogias que permitam aos professores acolherem, ou servidores técnico e técnica-administrativas acolherem essas pessoas nas suas diferenças. No caso da comunidade LGBT, ela precisa se sentir parte dessa comunidade da universidade, se sentir segura aqui para que possa permanecer. São vários aspectos que precisam ser olhados não apenas para um grupo ou outro. Hoje, nós temos um outro grupo que está dentro da universidade que é o 60+. E foi uma ação inovadora extremamente importante porque é um outro olhar sobre o envelhecimento, em uma sociedade que amplia o tempo de vida das pessoas. Cada vez vivemos mais e isso precisa ser tratado pela universidade, mas o acolhimento dessas pessoas para que permaneçam aqui tem que ser cuidado à luz da especificidade do que é uma pessoa com mais de 60 anos.

Cotas no Serviço Público

Ainda no debate sobre as cotas, a UnB tem um papel histórico na implementação de cotas raciais para estudantes, mas existe ainda uma lacuna quando se trata de professores negras e negros na universidade. Qual a proposta da chapa para a efetividade da implementação da Lei de Cotas no Serviço Público?

Primeiro, é importante dizer que na docência, mesmo as mulheres ainda representam minoria em nossa universidade. Nós somos maioria em outros estratos, mas na docência nós somos minoria. Esse é um movimento que precisa ser feito. 

Da mesma forma, o quantitativo de negros e negras é muito aquém do que é o espectro da nossa sociedade e do que é o espectro hoje da nossa comunidade estudantil. Nosso compromisso é que a lei de cotas no serviço público se cumpra, a partir da definição nos concursos das vagas, da garantia também internamente dessa presença das questões étnico-raciais nos processos internos da Universidade, por exemplo, no acesso à pós-graduação e assim por diante.

No caso específico dos docentes, além de garantirmos as vagas para que eles possam entrar, é importante que a gente trabalhe os componentes curriculares dentro da Universidade. A lei diz da necessidade de que esses componentes curriculares vinculados à questão étnico-racial estejam presentes. Entretanto, o que a gente tem testemunhado é que os currículos dos cursos ainda não incorporam isso na centralidade do currículo, continua muito numa questão opcional, como se as pessoas pudessem ou não fazer.

E nossa compreensão é de que as questões étnico-raciais precisam vir para a centralidade do currículo, como vieram as questões relacionadas à extensão universitária. Não podemos esquecer que o currículo é o definidor do perfil de profissional que se quer formar, ele expressa uma concepção de sociedade e de mundo. Portanto, não é algo que se dá no automático, por isso que mesmo tendo a lei, não tem a mudança expressiva no currículo.

E a universidade tem um papel nessa questão, por isso também considero muito importante que a gente faça um diálogo com o Conselho Nacional de Educação, que foi recentemente renovado, no sentido de que haja mais flexibilidade em torno das resoluções, das normativas que orientam a questão curricular, para que a gente possa, à luz da nossa realidade, propor e alterar para que esse currículo seja a cara da nossa sociedade. Isso fortalece a presença do professor e amplia a possibilidade do debate.

Saúde Mental

De acordo com dados obtidos pelo Brasil de Fato DF por meio de LAI, entre janeiro e junho de 2024, a Coordenação de Atendimento Psicossocial da UnB atendeu 196 pessoas (estudantes, docentes e TEA) com alguma queixa de saúde mental. As principais demandas foram ansiedade e depressão. Quais as propostas da chapa para o acolhimento e prevenção do adoecimento mental da comunidade acadêmica - estudantes e técnico-administrativos e docentes?

Primeiro, nós temos o fortalecimento da DASU, que é a Diretora de Atendimento à Saúde da nossa comunidade. Foi uma medida extremamente positiva e fundamental, principalmente no contexto pandêmico e pós-pandêmico. A DASU precisa ser fortalecida cada vez mais para que nossa comunidade tenha políticas e ações implementadas no sentido de garantir o mais possível a saúde dessa comunidade. 

Porém outras ações podem ser desenvolvidas que estão relacionadas à convivialidade na universidade. Por isso, nossa chapa apresenta a proposta de espaços de convivência em todos os campi, buscando integrar aquilo que nós fazemos, e fazemos muito bem, na área das artes, da cultura, dos esportes, a espaços de convivência que permitam que a gente se aproxime cada vez mais. 

Porque é certo que um dos problemas que vivemos hoje está relacionado ao afastamento da nossa comunidade, por força mesmo do contexto pandêmico, que implicou um certo isolamento.Vivemos numa sociedade que nos estimula ao individual e não ao coletivo, ao solidário. A universidade precisa trabalhar cada vez mais para essa integração, para essa volta a esse espaço mais afetivo, mais acolhedor, compartilhando com o outro as suas dificuldades. Isso tudo faz com que a pessoa se sinta mais acolhida. Então, não é só ter um lugar para acolher, ainda que isso seja necessário nos casos extremos, mas é ter um espaço que permite viver a universidade.

Pergunta da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB)

A Consulta para a Reitoria da UnB significa um importante instrumento de defesa da autonomia e democracia das Universidades Públicas. Neste sentido, qual será a posição da chapa caso não seja majoritária na consulta, quando o Conselho Universitário (Consuni) convocar a eleição para compor a lista tríplice?

A nossa posição é de respeito à definição da nossa comunidade acadêmica. Se a comunidade acadêmica não decidir pela nossa chapa, nós não vamos nos apresentar, porque temos que respeitar. É uma decisão da comunidade. A nossa expectativa é muito grande de que seremos nós os que serão reconhecidos pela nossa comunidade como aqueles com a condição de fazer com que a universidade continue avançando e caminho para o futuro. 

O nosso compromisso é com a autonomia, com o respeito à deliberação da nossa comunidade acadêmica. Então, o que a comunidade acadêmica entender que deve representar o projeto para o futuro, será respeitada por nós e ela será a chapa que nós vamos referendar no Consuni. 

Pergunta do Diretório Central dos Estudantes da UnB Honestino Guimarães (DCE/UnB)

De forma detalhada, como a senhora irá fazer para retomar o Intercampi, sabendo das limitações legais alegadas pela atual gestão e a necessidade de alocação de recursos?

O intercampi está no escopo de duas dimensões para nós da Chapa 90. Primeiro a questão de recursos, nós estabeleceremos como uma das ações prioritárias  a retomada do intercampi e ampliação do intracampus. 

Ele estará nas prioridades, porque nós entendemos que mais do que a mobilidade, o intercampi tem uma dimensão pedagógica. Ele oportuniza que o estudante da nossa universidade possa experienciar essa universidade em totalidade. Não apenas se deslocar de um campus ao outro para fazer uma disciplina, mas para que ele possa participar dos eventos, desenvolver projetos de extensão e de pesquisa, participar de componentes curriculares em outros cursos que não o seu. Ou seja, para que ele possa experienciar esse viver da Universidade. 

Considerando que nossos estudantes são das classes populares, se nós não garantirmos esse deslocamento, nós estaremos impedindo essa convivialidade, esse diálogo, que Darcy Ribeiro tanto queria, e também a oportunidade de que os estudantes daqui possam estar em Planaltina, no Gama e Ceilândia, porque ali tem agendas extremamente ricas e importantes. São centros recentes de produção de conhecimento, com os quais a nossa comunidade pode aprender. 

Qual é a questão em relação ao Governo do Distrito Federal? É porque o intercampi não pode entrar numa seara como se fosse um transporte comum. É isso que às vezes o GDF questiona, quando o estudante pede pra parar fora do espaço de um Campus para outro canto. Então, esse é um diálogo que a gente tem que intensificar com o GDF, porque nós não estamos concorrendo com os serviços que são prestados por ele, mas estamos cumprindo uma agenda pedagógica, por isso que insistimos nessa dimensão pedagógica.


Olgamir Amancia, candidata à reitora da UnB / Foto: Maurício Carlos

Mas nós não vamos ficar só no resgate do intercampi. Nossa atuação com o GDF também cumpre dois eixos. Primeiro é a ampliação, intensificação e compatibilização do horário das linhas de ônibus com o horário da Universidade. 

Temos sofrido muito com isso porque o horário que os ônibus passam nas cidades e aqui mesmo, muitas vezes obriga que o estudante saia da aula muito antes que ela termine, o que é um prejuízo quando isso se torna algo recorrente.

E a outra dimensão, para além disso, há toda uma política GDF com o Entorno, com a Ride. Há toda uma orquestração entre GDF e Governo do Estado de Goiás, por exemplo, e até Minas Gerais. Vamos dialogar também para garantirmos que os estudantes do Entorno, e nós temos muitos estudantes da dessa região mais ampla que vem para a universidade, que precisam ter acesso, por exemplo, ao Passe Estudantil.

Um estudante que vem de Planaltina de Goiás paga mais de 11 reais para estar aqui. Isso é insustentável. Então nosso compromisso também é com o diálogo nessa perspectiva e há possibilidade, porque há toda uma agenda construída entre os governos no que diz respeito à Ride. E aí nós estaremos também nos colocando em movimento sobre isso.

Pergunta do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub)

A greve dos técnico-administrativos garantiu conquistas importantes para a reestruturação da carreira, ganhos no contracheque, as 30 horas, o RSC (Reconhecimento dos Saberes e Competências), entre outras. Como a sua gestão pretende garantir a implementação dessas conquistas, a valorização das e dos servidores, sem perder de vista melhores condições de trabalho e o problema do assédio moral?

Nosso compromisso com a pauta que foi apresentada e que está na Mesa com MGI é absoluto. Nós entendemos que um dos grandes gargalos que temos hoje na universidade é a desvalorização da carreira dos servidores e das servidoras técnicas. E essa desvalorização tem a ver com o fato de não ter o Reconhecimento dos Saberes e Competências, não ter a jornada de 30 horas sem redução de salário, que é algo muito demandado pelos técnicos. Quando o técnico quer estudar, fazer uma pós-graduação, muitas vezes, ele fica sem condições de fazer como deveria ser porque o tempo que é autorizado muitas vezes é menor do que o necessário, porque não temos servidores. 

Isso tudo impacta a universidade e concorre para que nós tenhamos uma situação difícil no ambiente da Universidade, porque os servidores técnicos representam um setor de garantia de que de fato as atividades finalísticas aconteçam. Não tem como realizar ensino, pesquisa e extensão com a excelência que nós da Chapa 90 afirmamos que é fundamental, se nós não tivermos servidores técnicos melhor reconhecidos para que permaneçam nessa universidade e permaneçam felizes, atuando com qualificação, tendo a oportunidade de se qualificarem cada vez mais com vagas no mestrado, no doutorado.

Se nós não atuarmos junto a essa Mesa, o prejuízo é muito grande para as nossas universidades, então o nosso compromisso é da interlocução com o Governo Federal que, de novo, quero dizer que a nossa chapa é a com as melhores condições de fazer a interlocução com o governo federal. O nosso compromisso é fazer essa interlocução para contribuir para que essas pautas que estão na Mesa sejam concluídas para que possam ser implementadas na universidade.

Também tem que ter possibilidades internas a nós. E um dos caminhos que nós entendemos, dentre os múltiplos que podemos desenvolver, diz respeito à ampliação de vagas no mestrado, doutorado, para que os servidores técnicos possam estudar cada vez mais. Isso é entendido como um investimento, porque qualifica a atuação, mas também qualifica o que a universidade faz.

Outra dimensão importante é que possam, a partir dessa qualificação, atuar em projetos de pesquisa e de extensão - hoje eles já atuam plenamente nos projetos de extensão - e receber bolsas, para ampliar a remuneração.

Mas para além disso, nós temos aqui na Universidade de Brasília uma equipe técnica de altíssimo nível, com uma elevada qualificação profissional, então além de atuar para que isso se aplique cada vez mais em tempo de qualificação profissional, é importante que a gente crie espaço. E é isso que nós estamos propondo para que essa qualidade que está associada à formação e ao trabalho, que o técnico e a técnica desenvolvem, que essa qualidade retorne para a universidade por meio de processos formativos. 

Por isso, nós propomos o Pro-Qualit, um programa de qualificação dos técnicos, onde eles podem e devem apresentar propostas e projetos relacionados à formação em diferentes áreas, compras, gestão, preenchimento da plataforma Sucupira, ou participações de saúde, que são tão destacadas em nossa universidade. 

Além disso, tem a Escola de Gestão. A questão da gestão é algo que precisa ser cada vez mais estudado e trabalhado de forma a otimizar, porque ter uma qualidade na gestão formativa, uma qualidade normativa, isso torna a gestão mais efetiva, isso diminui prazos, diminui retrabalho. Isso faz com que a universidade ande num tempo e numa celeridade necessária. E isso só é possível com formação recorrente e quem pode atuar nesses processos formativos são aqueles que aqui trabalham, que já tem uma experiência acumulada. No caso dos técnicos, como eu disse, estão ali na vivência da gestão da universidade, à medida que vão se qualificando cada vez mais, também poderão contribuir com a escola de gestão. E isso tem que ser entendido como algo que é fundamental para a universidade otimizar os seus processos. Então são medidas como essa que a gente entende que são fundamentais.

E em relação à última questão, o assédio é algo extremamente danoso, inclusive à saúde mental. Muito do que a gente tem de repercussão na saúde mental tem a ver com não pertencimento, mas tem a ver com práticas de sujeição e de dominação, porque o assédio na verdade tem a ver com as relações de poder. Nós temos que olhar para o assédio, como a universidade vem olhando e enfrentando isso.

O assédio, primeiro, é resultante dessa lógica da sociedade que nós vivemos, a lógica do patriarcado, do patrimonialismo, e tem que ser combatido firmemente, esse é o compromisso da Chapa 90. Nós já temos medidas importantes na universidade que iremos consolidar. A primeira delas é a política, que já foi aprovada na universidade, de prevenção e combate ao assédio e outras violência. 

Essa política precisa ser lida na seguinte perspectiva: quando a Universidade aprova, a partir da sua Câmara de Direitos Humanos, uma proposta de política de assédio significa que a universidade assumiu que existe o assédio, ela não está fechando os olhos, não está naturalizando essas práticas. Ela tá dizendo que tem um problema e ele tem que ser enfrentado. E esse é o primeiro passo, porque a grande maioria das violências quando acontecem são naturalizadas pela sociedade, pelos gestores.

A universidade tem que investir muito nisso, pra desconstruir essa cultura de colonização, de mando, de sujeição. Mas não dá para aguardarmos a desconstrução da cultura, porque isso é um processo mais demorado, um processo lento. Então, paralelo ao processo de educação e formação, nós temos que investir num processo de coerção, de inibição desse tipo de prática.

Para isso foi criado um fluxo que permite a vítima denunciar. Mas não só ela, acho que esse é um dado importante: no fluxo que hoje está previsto pela UnB, tanto a vítima pode e deve denunciar, mas nem sempre a vítima se sente em condições de denunciar, exatamente porque ela é fragilizada por esse processo e está em sofrimento. Ela tem medo então não se sente segura para fazer a denúncia. 

Então, a porta de entrada da denúncia também pode ser feita por alguém que testemunha, que saiba. Isso mostra a corresponsabilização. O assédio não é um problema da vítima. O assédio é um problema da universidade e da sociedade. É responsabilidade de todos nós.

A universidade sempre foi uma referência nacional para as iniciativas mais insurgentes vinculadas à vida com qualidade. A UnB é uma instituição que tem uma trajetória de luta por igualdade e por liberdade, ou seja, é um espaço diferenciado. E ela precisa continuar cumprindo isso. Então enfrentar o assédio, assim como enfrentar as práticas de desrespeito a nossa diversidade, seja a questão do envelhecimento, seja a questão da orientação sexual, a questão racial, isso é um desafio que está posto para nós. A Chapa 90 entende que tem que ser posto como algo que está na centralidade e que nós nos comprometemos.


Olgamir Amancia é candidata à Reitora pela Chapa 90: Pensar e fazer UnB. / Foto: Maurício Carlos

*A entrevista com Olgamir Amancia foi realizada no dia 16 de agosto, conforme agenda disponível da candidata.

:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::

Edição: Rafaela Ferreira