Distrito Federal

Fim da violência

Inauguração da Casa Ieda retoma atividades de assistência para mulheres vítimas de violência

Evento acontece neste sábado (24), a partir das 14 horas, na sede da organização na Asa Sul

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ativistas do Movimento de Mulheres Olga Benário, responsáveis pela organização da Casa Ieda Santos Delgado, espaço de apoio a mulheres em situação de violência. - Foto: Donavan Sampaio/JAV-DF

Neste sábado (24), o Movimento de Mulheres Olga Benário realizará a inauguração oficial da Casa Ieda com atividades culturais e politicas. A sede definitiva está localizada na quadra comercial 307 da Asa Sul.

O espaço será dedicado ao acolhimento de mulheres em situação de violência doméstica e à organização de atividades formativas voltadas à promoção dos direitos femininos.

A programação inicia às 14h e contará com apresentações das artistas Maluvidas, Julia Pitaya, Mariana Camelo e Nat Pires, além de discursos de lideranças políticas e sociais.

De acordo com a organização da atividade, a inauguração da Casa Ieda promete ser o maior ato político e cultural pela vida das mulheres na história do movimento no Distrito Federal.

Além das atividades culturais e políticas, a militância estará mobilizada para cuidar das crianças presentes e coordenar a venda de comidas, bebidas, camisetas, livros e outros materiais, com o objetivo de garantir a sustentabilidade da ocupação.

A atividade é gratuita e os ingressos estão disponíveis no Sympla, onde os interessados também podem contribuir com doações para o projeto.

Trabalho da Casa Ieda

De acordo com Thais Oliveira, coordenadora do projeto, a Casa Ieda é a 13ª ocupação para mulheres em situação de violência do Movimento de Mulheres Olga Benário. Ela explica que para garantir o funcionamento da Casa, o movimento prestará serviços de assistência interdisciplinar e atendimento humanizado às mulheres com o engajamento de advogadas, psicólogas e assistentes sociais voluntárias. “Além disso, pretendemos criar coletivamente um espaço vivo, acolhedor e arrojado com saraus, brechós, cursos de formação, cozinha solidária e biblioteca comunitária”.

A nova sede foi conquistada após duas ocupações anteriores e é agora um imóvel cedido pela Secretaria de Patrimônio da União no DF (SPU-DF).

Apesar de localizada na Asa Sul, área central de Brasília, Thais Oliveira ressalta que “a Casa Ieda nasceu na periferia de Brasília – nas chamadas RAs, Regiões Administrativas. O intento do Movimento de Mulheres Olga Benário é que a ocupação seja um ponto de intersecção de lutas populares de todo Distrito Federal e entorno, o centro geográfico e estratégico do Brasil”.

“Entendemos a Casa como um espaço participativo por dignidade, esperança e transformação, pretendemos nos integrar à comunidade de forma ativa e orgânica com muito trabalho de base, com o intento de nos tornarmo-nos uma referência, prestando atendimentos de qualidade que possam ser um ponto de virada na vida das que chegarem até nós, com atividades audazes e parcerias sólidas com outras organizações como ONGs, coletivos, sindicatos e universidades que partilhem de nossa luta comum pela emancipação das mulheres”, reforça.

O Movimento Olga Benario, reconhecido por suas ações em defesa das mulheres em todo o país, destaca a importância da Casa Ieda, que surgiu na capital em 2022 em resposta à crescente violência contra as mulheres no Distrito Federal e entorno. O coletivo está mobilizando voluntárias para colaborar com a manutenção do espaço. Psicólogas, assistentes sociais e advogadas estão sendo convidadas a oferecer apoio voluntário, enquanto a comunidade também pode participar de mutirões de reforma e limpeza.

Em outubro de 2022 e em outubro de 2023, o Movimento ocupou dois imóveis no Distrito Federal. O segundo despejo aconteceu por ordem da Administração Regional do Guará. Sob chuva, o grupo presente na casa teve que sair às pressas, levando consigo roupas, pertences pessoais e alguns alimentos. Camas, colchões, travesseiros, eletrodomésticos e outros itens foram colocados em um caminhão e removidos pela administração.

De acordo com Thais, ambos não cumpriam função social há mais de 10 anos, e serviam apenas à especulação imobiliária. “Nas duas vezes, sofremos reintegração de posse por parte do GDF, mas, até que fôssemos retiradas, tivemos muita resistência da militância e apoiadores. Na primeira ocupação, sofremos reintegração com toda truculência policial com que se trata os movimentos sociais”.


Foto: Donavan Sampaio/JAV-DF

Uma das coordenadoras foi inclusive presa, e sua soltura só foi possível graças à mobilização das ativistas. “Na segunda ocupação, igualmente com muita resistência, conseguimos uma mesa de negociação com o GDF, abrindo a possibilidade de conquistarmos nosso espaço definitivo. Desocupamos em um grandioso ato, com muito apoio de outras forças políticas e com o plano de seguirmos em luta até que a promessa saísse do papel”, afirma Thais Oliveira.

Violência contra mulheres no DF

Essa semana ocorreu o 12º caso de feminicídio do DF. Juliana Barboza Soares morreu após ser atropelada três vezes pelo ex-companheiro e pai de sua filha de cinco anos na data em que a vítima comemorava o aniversário de 34 anos. A mãe e a filha de Juliana também foram atingidas pelo carro, mas sobreviveram e, em seguida, encaminhadas para o hospital.

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) indicam que houve um aumento de 4,5% nos crimes de violência doméstica no primeiro semestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Foram registradas 9.795 ocorrências, enquanto em 2023 o número era de 9.370 casos.

As regiões administrativas com os maiores índices desse tipo de crime nos primeiros meses de 2024 foram Ceilândia, com 1.360 casos, Samambaia, com 797, e Planaltina, com 784 registros. O Lago Sul destacou-se pelo maior aumento percentual, registrando um crescimento de 77% nas ocorrências em relação ao primeiro semestre de 2023, passando de 26 para 46 casos.

Homenagem à Ieda Santos

A 13ª ocupação do Movimento Olga Benário recebeu o nome de Casa Ieda Santos Delgado, em homenagem à militante da Ação Libertadora Nacional (ALN) durante a ditadura militar. Ieda formou-se em ciências jurídicas e sociais pela Universidade de Brasília (UnB) em 1969.

Sua trajetória política, iniciada no movimento estudantil, levou à sua prisão e desaparecimento em abril de 1974, durante o regime militar. A Comissão Nacional da Verdade concluiu que Ieda foi torturada, assassinada e enterrada por agentes do Estado brasileiro.

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Edição: Flávia Quirino