Distrito Federal

Fraude em medidor

Usina de álcool, flagrada por furto de energia, já havia sido ocupada pelo MST em Vila Boa (GO)

De acordo com um representante do MST, através de fontes ligadas ao governo, usina possui uma dívida de R$ 91 bilhões

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Investigação aponta que empresa localizada na zona rural manipulava o medidor de energia - Foto: Reprodução/Equatorial Energia Goiás

Uma inspeção de rotina da Equatorial Goiás levou técnicos da distribuidora e policiais a deflagrar uma operação contra o furto de energia na cidade de Vila Boa, em Goiás, que estava sendo realizado por uma usina de álcool da região. De acordo com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Distrito Federal e Entorno (MST-DFE), a usina em questão é a Companhia Bioenergética Brasileira (CBB), que já foi ocupada por cerca de mil famílias em abril deste ano.

Após uma vistoria realizada no mês passado, a equipe de fiscalização da companhia percebeu uma alteração no sistema de medição em uma usina de álcool no município. A investigação aponta que a empresa, localizada na zona rural, manipulava o medidor de energia.

Já na última quinta-feira (21), fiscais da distribuidora e a Polícia Civil e Científica retornaram ao local e confirmaram que a manipulação estava em curso há cerca de três meses. O prejuízo calculado pela companhia, nesse período, é de mais de R$ 1,2 milhão.

De acordo com um representante do MST, através de fontes ligadas ao governo, foi revelado que a fazenda onde está situada a usina possui uma dívida de R$ 91 bilhões com a União e o próprio Estado de Goiás. Entre as dívidas estão tributos, trabalhistas e ambientais. Segundo o representante, existe um embargo de 4.000 hectares de terra por crimes ambientais também nessa área.

Em abril, durante a ocupação, a usina CBB estava com uma dívida de mais de R$ 300 milhões, composta por inúmeras dívidas tributárias, trabalhistas, embargos e multas ambientais, segundo o MST. Na época, o movimento informou que a área da usina, por si só, não quita as dívidas, pois "a fazenda está avaliada em 200 milhões de reais."

O Brasil de Fato DF entrou em contato com a usina CBB para comentar sobre o furto de energia, mas até o fechamento desta matéria, não houve resposta.

Fraude no medidor

Após uma vistoria realizada no mês passado, a equipe de fiscalização da companhia percebeu uma alteração no sistema de medição em uma usina de álcool no município. A investigação aponta que a empresa, localizada na zona rural, manipulava o medidor de energia.

Ninguém foi preso, mas um funcionário da usina foi levado à delegacia para esclarecimentos. O proprietário da empresa, que não estava no local durante a operação, pode responder judicialmente pelo crime.

Segundo a empresa, além de ser um crime, com pena prevista de reclusão e multa, o furto de energia, popularmente conhecido como "gato", prejudica diretamente a qualidade do fornecimento de energia e põe em risco a segurança da população, podendo causar graves acidentes, principalmente para as pessoas que manipulam a rede elétrica sem a capacitação adequada e os devidos cuidados.

Segundo a Equatorial, as ligações irregulares sobrecarregam a rede elétrica, aumentando o risco de curtos-circuitos que, por sua vez, podem causar interrupções no fornecimento de energia. Isso prejudica não apenas aqueles que realizam tais ligações, mas também os clientes regulares da companhia, comprometendo a qualidade do serviço prestado.

Para o representante do MST-DFE, isso demonstra qual é a postura desses latifundiários. "Eles não estão preocupados em desenvolver o Estado, nem o município. Pelo contrário, eles estão preocupados em explorar as riquezas naturais, explorar os trabalhadores e explorar a terra de forma ilegal em troca de seu lucro", destaca.

Ocupação

A ocupação de uma área falida de 8 mil hectares da usina CBB compôs a Jornada Nacional de Lutas em defesa da Reforma Agrária. Segundo o MST, o intuito da ação foi denunciar a demora do governo em desapropriar a usina que foi oferecida ao patrimônio da união para quitar as dívidas milionárias, e assim ser incorporada ao Programa Nacional de Reforma Agrária e resolver o passivo de famílias sem terra que vivem na região do DF e Entorno. 


Famílias são de vários municípios do nordeste goiano e do DF / Divulgação/MST-DFE

Conforme informações do MST, a Usina da Companhia Bioenergética Brasileira ocupa uma área de 8 mil hectares de terra, com dois principais complexos: as fazendas Tábua de Cima e Prelúdio. Além de outras áreas que estão em processo de adjudicação, ou seja, estão sendo repassadas ao patrimônio da união como forma de pagar a dívida milionária que tem com o Estado.

"A ocupação das da Usina CBB se deu a partir de uma conversa entre nós do Movimento com autarquias do governo federal, Patrimônio da União, o próprio Incra, a cerca das dívidas dessa usina, que é uma área de 8 mil hectares de terra. A Superintendencia de Patrimonio da União (SPU) tinha um processo de análise dela por conta das dívidas com a união de de retomada dela como patrimônio da União", informa o representante do MST-DFE.

Ele ainda conta que, na ocupação, foi tomada uma reintegração de posse no mesmo dia com truculência da polícia militar, que estava em comum acordo com os fazendeiro com o governador de Goiás com a força de segurança. "É um conluio entre milícia do campo, governo de Goiás, a polícia civil e militar, além da própria Secretaria de Segurança Pública", destaca.

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Edição: Márcia Silva