Distrito Federal

Ocupa Eixão

Audiência em defesa do Eixão do Lazer ouve artistas e trabalhadores ambulantes

Movimentos sociais convocam ato "Ocupa Eixão" no domingo (8)

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Mobilização foi convocada após ação do GDF de impedir o comério no Eixão aos domingos. - Foto: Thamy Frisselli

No último domingo (1º), o governador Ibaneis Rocha atuou de forma truculenta contra as atividades no Eixão do Lazer. Em resposta às manifestações dos setores da cultura, o debate voltou para a Câmara Legislativa nesta quarta-feira (4), com a presença de artistas e trabalhadores ambulantes.

Moradora do Sol Nascente, Denilde Maria de Carvalho, trabalha com açaí e não entende porque Ibaneis não se preocupa em colocar policiamento na Região Administrativa onde mora e age de forma agressiva com quem está trabalhando. “Eu simplesmente estava trabalhando. Montamos nosso espaço, quando chegou o DER, o DF Legal e a Polícia Militar, falando que nós tínhamos que sair de lá. Eles trataram a gente como um lixo, e eu lutando para sobreviver, para botar o sustento em casa e o governo agiu com descaso. Ele nos coagiu. ao invés de obras e estradas poderiam se preocupar com a saúde e segurança do Sol Nascente, lá precisa. E aí, governador, por que você fez isso com a gente, sendo que você poderia estar arrumando emprego para a gente, já que não quer a gente como ambulante, não quer a gente na rua, então arruma emprego para a gente”, desabafou.

Os deputados distritais Fábio Félix (Psol) e Gabriel Magno (PT) defenderam as múltiplas atividades no Eixão. Fábio ressaltou que os próprios moradores das Asas Sul e Norte frequentam os eventos, a exemplo do "Choro no Eixo". Gabriel informou ter apresentado um projeto de decreto legislativo (PDL) alterando o decreto do governador publicado nesta terça-feira (3), no que diz respeito à definição do que é lazer e o que pode ser feito no Eixão. De acordo com o distrital, o decreto exclui a realização de comemorações de aniversário, piqueniques, apresentações musicais e outras manifestações culturais. “Isso é ilegal”, criticou.

A vendedora de bebidas, Elisângela Ripardo de Santos, trabalhadora ambulante no Eixão do Lazer há dois anos e meio, diz que é muito bom trabalhar porque se diverte, faz amizade e já tem clientes que sempre vão em seu ponto, mas que ficou muito triste com o ocorrido. “Meu pontinho é lá no Choro do Eixo, é próximo ao banheiro. Domingo, quando a gente foi expulso do Choro, doeu, não só pela mercadoria que eu comprei, não só por ver tantos amigos, tendo tanto prejuízo, mas porque é uma sensação de impotência. Porque parece que você estava cometendo um crime, da forma que eles chegaram lá e abordaram a gente”.


Audiência pública foi realizada nesta quarta (4) na CLDF. / Foto: Thamy Frisselli

'Surpresa desagradável'

O deputado Max Maciel (Psol) apresentou dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPEDF) em 2023 mostrando que o Eixão do Lazer conta com a aprovação de 94% dos moradores das Asas Sul e Norte. “O direito à cidade não é só ir e vir, é o direito que a comunidade tem de transformar os espaços de acordo com suas necessidades”, afirmou, defendendo a continuidade das atividades culturais no Eixão.

Para Glauber Cruz,  da Cervejaria Bracitórium e também do Rock no Eixão, a ação foi uma surpresa desagradável e destacou a importância do Eixão do Lazer. “É um evento gratuito, que está para todo mundo, e somos uma cadeia econômica importante aqui do DF, porque a gente tem fábrica, comércio, revenda. Não entramos nos grandes eventos, porque as grandes cervejarias dominam isso, e até os grandes bares também não compram da gente, que somos da cerveja artesanal, e o Rock no Eixão era uma opção de venda para sustentar o negócio, sustentar todo mundo que trabalha com a gente. E hoje estamos aqui, tentando fazer um movimento de trazer de volta, porque vai acabar com o Eixão do lazer que tem 30 anos”.

Chico Vigilante (PT) lembrou que o Eixão do Lazer foi instituído há 33 anos, em 1991. “Não conheço ninguém que queira acabar com isso. Mas sou a favor de discutir o disciplinamento. Precisa de cadastramento e, também, de fiscalização”, disse, pregando “bom senso”.


Artistas, trabalhadores ambulantes e representantes de organizações participaram da audiência. / Foto: Thamy Frisselli

Representante da Associação dos Food Trucks de Brasília, Guilherme de Castro Ferreira, apontou que a ação foi altamente agressiva e desnecessária. “Uma lei que está em tramitação hoje para a regularização total dos food trucks em Brasília em áreas públicas, e foi acordado com o governo que nós teremos passe livre para trabalhar até a lei ser aprovada. Quando acontece isso, nós ficamos a mercê da boa vontade dos órgãos públicos, tanto o DER quanto a Agefis, DF Legal. Eles têm um acordo verbal com a gente e quando é de interesse deles, eles quebram esse acordo como nessa ação altamente agressiva nos nossos dias de trabalho. Por exemplo, eu tenho quatro funcionários. Quatro famílias a mais. Tenho a minha família, tenho a família dos meus fornecedores, que dependem do trabalho que é feito nesse final de semana. Então, pra nós, foi algo grotesco”.

Manifestação

Desde o domingo, diversos artistas e ambulantes têm se organizado para conseguir trabalhar no Eixão. Neste domingo (8) acontece o “Ocupa Eixão”, a partir das 10h, na altura da 207 Norte, uma ação com diversas programações artísticas e culturais em contraponto à decisão do GDF.

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Edição: Flávia Quirino