O mapeamento de comunicadoras indígenas é uma ação fundamental para promover a visibilidade e o fortalecimento das vozes dessas mulheres nos meios de comunicação. A iniciativa fortalece as vozes e a presença das mulheres indígenas no campo da comunicação e traz uma visão abrangente das habilidades, experiências e necessidades das comunicadoras mapeadas.
Essa é uma ação que integra o projeto “Patak Maymu: Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos”, realizado pela Cese com apoio e financiamento da União Europeia, que tem a finalidade de fortalecer o protagonismo de mulheres indígenas e suas organizações dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Muitas vezes, as vozes das mulheres indígenas são marginalizadas ou ignoradas pelos meios de comunicação dominantes.O papel das mulheres na comunicação é importante para o fortalecimento do movimento pelos direitos dos povos indígenas. Elas ajudam a moldar a narrativa pública, desafiam injustiças e promovem mudanças positivas, desempenhando um papel vital na luta pela igualdade e justiça para suas comunidades.
“Que os povos possam se apropriar de ferramentas da comunicação para continuar a lutar pelos seus direitos e dar voz às suas comunidades”, afirmou Juliana Albuquerque Samores, do povo Baré no estado do Amazonas.
O mapeamento mostra a diversidade de experiências e enfoques das comunicadoras indígenas, além de destacar os desafios específicos enfrentados por elas.
Ana Paula Ferreira de Lima, assessora de projetos e formação na Cese, cita a relevância dessa ação. “É lançado em um momento importante e simbólico para as mulheres indígenas que fazem da comunicação um instrumento de luta, justiça e visibilidade. A leitura do mapeamento traz à tona diversos desafios vividos por essas mulheres ao fazer a comunicação de suas organizações e revela informações importantes para sociedade ", conclui.
Realização do mapeamento
O processo de mapear as comunicadoras indígenas aconteceu em três fases, em que a metodologia de realização do mapeamento previu a jornada dessas etapas e se manteve aberta para que os achados de uma fase validassem a sequência do trabalho na etapa seguinte. Contou com a participação de 121 mulheres de 58 povos, com faixa etária entre 15 a 55 anos.
A primeira fase foi a Coleta coletiva presencial, realizada em Fevereiro de 2024 no Mato Grosso do Sul, durante o Encontro de “Mulheres Indígenas do Cerrado”. A segunda foi a Pesquisa digital, realizada por meio de formulário online aplicado entre 23 de fevereiro e 18 de março, e a terceira, a Entrevistas em profundidade, realizadas de forma síncrona entre 11 a 29 de maio de 2024, por meio de plataforma digital em vídeo.
Vários temas importantes emergiram dos diálogos e escutas com as participantes, como: 1.Formação em comunicação, 2.Barreiras de linguagens, 3.Machismo e outras formas de discriminação, 4.Segurança digital e exposição da imagem, 5.O papel da comunicação face a face no território, 6.Saúde mental de mulheres indígenas comunicadoras, 7.Ferramentas, recursos, processos de comunicação e acesso à informação, 8.Efeitos da participação de mulheres na comunicação das organizações. (Detalhados no mapeamento)
Através desse mapeamento, é possível identificar e destacar as contribuições dessas comunicadoras, promovendo maior visibilidade e reconhecimento de suas histórias e perspectivas. Essa ação também ajuda a criar redes de apoio e colaboração entre comunicadoras de diferentes regiões, o que pode fortalecer suas iniciativas e ampliar o alcance de suas mensagens.
Durante a coleta coletiva presencial, as indígenas Marília Pôkwyj do povo Krahô (TO), Rosicleide Vilhalva do povo Guarani e Kaiowá (MS) e Cleidiane Koriga do povo Boe Bororo (MT), falaram da importância da comunicação como ferramenta luta, que fortalece suas identidades culturais e sociais. “Buscamos comunicação porque nosso território-corpo foi invadido. A comunicação nos trouxe voz”, afirmam.
As comunicadoras indígenas são agentes de mudança e fortalecimento das comunidades, cujas vozes são essenciais para a construção de sociedades mais inclusivas, justas e sustentáveis. Confira o mapeamento completo.
Sobre o projeto Patak Maymu
O projeto tem como objetivo fortalecer a garantia dos direitos das mulheres indígenas e seus povos, incentivando seu protagonismo e de suas organizações, contribuindo para que elas sejam reconhecidas dentro e fora de suas comunidades, pelo movimento indígena e pela sociedade brasileira.
Patak Maymu significa A voz da Natureza, e tem duração de 36 meses. Nesse período, acontecerão atividades de formação, comunicação e apoio a projetos, buscando contemplar a diversidade das mulheres indígenas e organizações mistas, incluindo a juventude e indígenas no contexto urbano.
A Cese desde sua fundação segue reafirmando seu compromisso com a luta dos povos indígenas por seus direitos culturais e territoriais. O movimento indígena tem sido uma força política fundamental produzindo mobilização social para defesa de direitos, proteção ambiental e enfrentamento a retrocessos democráticos no Brasil.
*Beatriz Tuxá é jornalista, integra a equipe de comunicação da CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviços.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Flávia Quirino