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Mudanças climáticas: um acelerador de injustiças sociais

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"A crise climática, embora um problema global, tem seus efeitos em nível local." - Foto: Divulgação Brigada de Alter do Chão (PA)
Não há razão para a inação.

Nesse dia da Amazônia, precisamos retomar a discussão sobre a transição ecológica pautada pelo fortalecimento de atores públicos.

O ano de 2023 ficou registrado como o mais quente desde que os registros globais começaram a ser monitorados em 1850. Uma série de impactos climáticos extremos resultaram desse cenário. Sob influência do fenômeno denominado “El Niño”, a elevação das temperaturas abriu caminho para eventos extremos, inundações, incêndios florestais, secas, ondas de calor e geadas.

De acordo com dados do Copernicus Climate Change Service (CCCS, na sigla em inglês), do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas, o planeta esteve 1,48ºC mais quente do que em anos anteriores. A maioria dos dias ultrapassou o 1ºC em relação à média pré-industrial, com dois dias ultrapassando os 2ºC de elevação – um marco inédito.

Para esse mesmo ano, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), divulgou, para o caso brasileiro, o aumento de 0,69ºC na temperatura média do país, especialmente entre os meses de julho e novembro. Em setembro e novembro o aquecimento registrado foi de 1,5ºC acima da média histórica de temperatura no período.

Diversas regiões enfrentaram elevações significativas nas temperaturas, a partir do qual cientistas e meteorologistas puderam constatar a alteração da dinâmica entre estações secas e chuvosas.

No final de 2023, a chegada das chuvas trouxe grandes inundações para estados como Pará, Mato Grosso, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo. Em 2024, a seca antecipada na Amazônia foi seguida por chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul.

Esses são exemplos de que a crise climática, embora um problema global, tem seus efeitos em nível local. Tanto a seca quanto a inundação representam tragédias dolorosas para a população residente nesses locais, além de enormes desafios para os diferentes níveis de governo, ainda despreparados para a ação rápida e efetiva nessas situações.

Outro desastre silencioso é a intensificação do fenômeno da desertificação no país, com implicações ao acesso à água e a perda de biodiversidade. Em nota técnica, cientistas do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ambos órgãos do governo federal, alertaram para o aumento do índice de aridez atmosférica no país. Áreas degradadas são as mais afetadas, com processos acelerados de desertificação nos estados de Bahia, Minas, Pernambuco e Paraíba. 

A necessidade de ações urgentes para mitigar as mudanças climáticas e adaptar-se a essas novas realidades é, hoje, incontornável.

Os dados apresentados neste texto mostram que as metas acordadas internacionalmente, em particular, a manutenção da temperatura global em uma faixa de aquecimento adicional inferior à 1,5ºC, já está sendo descumprida. Pior, a expectativa é que, em 2024, a temperatura global ultrapasse essa meta.

Também, por experiência, sabemos que a reconstrução associada aos danos às atividades econômicas, à renda e ao trabalho das famílias; ao patrimônio; ao direito à casa e comida; à saúde; à educação; e aos próprios ecossistemas naturais custam mais caro do que os esforços de adaptação. Não há razão para a inação.

Por isso, nesse dia da Amazônia, precisamos nos dedicar a pensar o quê fazer, mas também como fazer e como financiar as ações capazes de evitar que as mudanças do clima se tornem um acelerador de injustiças sociais em todas as regiões do país.

No Inesc, nós acreditamos que é preciso retomar discussões sobre uma transição ecológica pautada pelo fortalecimento de atores públicos, das políticas públicas e do orçamento público, com a promoção de atividades econômicas sustentáveis e atenção aos direitos humanos por meio de uma atuação propositiva dos governos.

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*Tatiana Oliveira é assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)

**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino