Distrito Federal

Bruno e Dom

Documentário que retrata a cobertura jornalística na Amazônia será exibido nesta quinta (19) em Brasília

Filme revela e discute os bastidores do jornalismo feito em campo nos locais mais violentos da Amazônia

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Exibição do documentário ocorre em meio às chamas que atinge o Parque Nacional de Brasília e cortinas de fumaça que afetam a capital federal desde o início deste mês - Foto: Divulgação

A Repórter Brasil e o Cineteatro dos Bancários promovem uma sessão especial do documentário "Relatos de um Correspondente de Guerra na Amazônia" nesta quinta-feira (19), às 19h. Dirigido pelos repórteres Ana Aranha e Daniel Camargos, o filme revela e discute os bastidores do jornalismo feito em campo nos locais mais violentos da Amazônia. A sessão vai contar com a participação e debate da diretora e as jornalistas Andreza Baré, Daniela Alarcon e Letícia Leite.

A exibição do documentário ocorre em meio às chamas que atinge o Parque Nacional de Brasília e cortinas de fumaça que afetam a capital federal desde o início deste mês. Para Ana Aranha, este é um momento simbólico para exibição do filme, uma vez que ele busca fazer uma ponte entre a tragédia ambiental em curso na Amazônia e as pessoas que vivem nas cidades. "Por isso, a gente usou essa palavra 'correspondente', já que o termo é uma provocação. Em muitos sentidos, a Amazônia ela parece um território estrangeiro para muitos brasileiros que moram nas grandes cidades", conta a diretora. 

O documentário parte da cobertura do assassinato do jornalista Dom Phillips, morto no Vale do Javari ao lado do indigenista Bruno Pereira, em junho de 2022. Por meio de seu trabalho com o jornal The Guardian, Dom fazia parcerias de investigação com a Repórter Brasil, e se tornou amigo dos jornalistas da equipe. O filme acompanha seu parceiro de reportagem, Daniel Camargos, enquanto ele embarca na cobertura da morte do amigo e inicia uma jornada reflexiva sobre o papel dos jornalistas que cobrem a destruição da maior floresta do mundo.

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Ao Brasil de Fato DF, Ana conta que o filme começou a ser feito na semana em que Dom sumiu. Com isso, a perspectiva do longa foi de filmar os bastidores do desaparecimento do jornalista para acompanhar o caso a longo prazo. "O primeiro bloco do filme são esses bastidores: jornalistas cobrindo a morte de um outro jornalista e como isso nos afetou. A partir daí, acompanhamos os bastidores da reportagem do Daniel em outras terras indígenas para que ele possa continuar a sua cobertura", explica a diretora. 

"Quando soubemos que o Dom havia desaparecido na Amazônia, toda a equipe ficou muito chocada, com muito medo, e todos tentando descobrir o que tinha acontecido, acionando as fontes, todo aquele movimento. Aí o Daniel foi para o Vale do Javari para acompanhar o caso e pensando nesse projeto de fazer o documentário", explica Ana.

O documentário também mostra como, ao descobrir o modo violento como Dom foi morto, Camargos pergunta se vale a pena seguir no ofício e terminar como Dom. Nisso, a resposta vem em outras coberturas pela Amazônia, quando Daniel conhece os Guajajara, no Maranhão, e o povo Munduruku, no Pará.

No documentário, é retratado que, apesar do horror, as comunidades se recusam a sair e seguem denunciando os invasores. Com isso, quando a resiliência dos povos indígenas ajuda o repórter a aceitar a perda de seu amigo, ele muda como enxerga seu papel como jornalista.

Dia do Fogo

Outro episódio retratado no documentário é a cobertura do “Dia do Fogo”, evento de agosto de 2019 quando fazendeiros promoveram incêndios de forma coordenada no sudoeste do Pará. Apesar da grande repercussão, até hoje o caso não resultou em indiciamentos, o que ajuda a explicar o atual cenário de incêndios impunes por todo o país.

Na ocasião, fazendeiros do entorno da BR-163 realizaram uma série de queimadas criminosas, no que ficou conhecido como o "Dia do Fogo". A ação coordenada fez o número de focos de calor aumentar cerca de 300% de um dia para o outro na principal cidade da região, Novo Progresso (PA).

Uma investigação do Greenpeace aponta que somente 5,3% dos desmatadores que devastaram a floresta amazônica no episódio conhecido como "Dia do Fogo" sofreram algum tipo de punição por parte dos órgãos de fiscalização ambiental.

Segundo Ana, o "Dia do Fogo" é um episódio que lembra muito o momento que estamos vivendo agora. "Todos esses focos de incêndio se espalhando também estão cheios de suspeitas; pode haver algo feito pelos homens, não apenas um fenômeno natural. Então, percebemos que há uma sensação de impunidade muito forte. Se nem mesmo os culpados pelo 'Dia do Fogo', que foi um grande escândalo em 2019, foram detidos, certamente essas pessoas agem sabendo que nada vai acontecer com elas", destaca.

O filme foi indicado ao Prêmio Gabo 2024, o mais prestigiado do jornalismo latino-americano, e ganhou o 40º Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, concedido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e pela Ordem dos Advogados do Brasil do Rio Grande do Sul em 2023. O filme faz parte do projeto Bruno e Dom, quando mais de 50 jornalistas de 10 países se uniram para continuar o trabalho de Dom. O projeto foi coordenado pela Forbidden Stories. 

Serviço

O que: Exibição do documentário "Relatos de um Correspondente de Guerra na Amazônia"

Data: Quinta-feira (dia 19), 19h

Onde: Cine Teatro dos Bancários, Asa Sul, EQS 314/315 BL

Duração: 54 minutos

Produção: Repórter Brasil

Direção: Ana Aranha e Daniel Camargos

A entrada gratuita (não é preciso retirar ingressos antes). Após a exibição, haverá um debate com a diretora e convidados.

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Edição: Flávia Quirino