Não há como iniciar este texto sem saudar o espinhoso e corajoso trabalho de todos os brigadistas que se colocam no fronte do enfrentamento dos grandes incêndios. Este fato é o que deveria povoar as manchetes na mídia e as falas de parlamentares não tão desavisados assim.
Infelizmente, este gigantesco e pouco valorizado trabalho ainda sofre com fake news, que ousam apontar que a causa dos incêndios que devastam o país, seria o uso do fogo prescrito pelo Ibama e pelo Icmbio. Nunca é exagero lembrar que a construção das notícias falsas, ou no mais popular, mentiras, não se baseia no desconhecimento. É um organizado lógico, intencional e político, que desvirtua o cerne de todo e qualquer debate e não se propõe a pensar soluções ou contribuir para qualquer tema, exceto para atender demandas privativas de um nicho ou grupo.
É desta maneira que compreendemos e repudiamos a fala da Senadora Damares Alves (Republicanos/DF) em relação aos trabalhos dos brigadistas. A Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e o Pecma (Ascema Nacional) e o Sindicato dos Bombeiros do DF (SindBombeiros/DF) já se pronunciaram em relação às lamentáveis declarações da senadora, fazendo o papel correto de informar inclusive o quando e como se utilizam técnicas de contrafogo para combater fogo.
Neste bojo, o debate se desloca para um nada propositivo. Não fica em foco a urgência e importância dos trabalhos dos brigadistas e, por consequência, todo trabalho de monitoramento, controle e proteção ambiental que evitariam potenciais focos de incêndios criminosos e demais ilícitos ambientais. Então, como retórica, por quais razões a Senadora não subiu à tribuna para tratar dos direitos e das condições destes trabalhadores?
A fala da parlamentar até traz a greve de 2024 da Cema e do Pecma à tona, mas com nenhuma intenção de problematizar a situação de trabalho desta carreira. Na verdade, o que foi dito serviu apenas como um recurso de difamação dos trabalhadores ambientais e dos órgãos como Ibama e Icmbio, porque seriam estes os sujeitos que "querem acusar a direita e o agro de incendiários" (sic).
:: A greve dos servidores ambientais federais terminou, mas luta pela valorização continua ::
De acordo com o professor Gilberto de Souza (UFPA), os incêndios que consomem o bioma amazônico são uma etapa da exploração econômica da floresta. A prática barateia custos para o agronegócio e socializa prejuízos incalculáveis para a sociedade. O retrato do caos climático se consolida no país e a prioridade de alguns parlamentares é endossar a marcha da devastação. Pelo óbvio, uma série de estudos apontam para relação incêndios e modo de produção e modelo econômico atual.
Então, o que fazer?
Nos limites e contradições dos poderes da República, a máxima passa pelo fortalecimento dos órgãos ambientais (Ibama, Icmbio, SFB) que enfrentam os desafios dos incêndios diuturnamente, não só com o objetivo da execução plena da política pública, mas pela garantia de recursos e biomas pensando as gerações futuras. Para isso a valorização da categoria e as condições de trabalho são viscerais.
No limite do possível, a subversão deste modo de vida e produção é o único caminho. É encarar a retificação de desinformações como ponto de partida e seguir o combate, sem temer qualquer força destruidora dos biomas, dos territórios e dos povos, para mitigarmos ou revertermos o processo cumulativo de desordem climática. Ou isso ou pereceremos no próximo discurso do absurdo.
*André Café é presidente da Associação dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA, no Distrito Federal (Asibama-DF).
**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino