Distrito Federal

Arte por toda parte

Comitê de Cultura formado pelo MinC inicia circuito de escutas pelo Distrito Federal 

Objetivo é promover encontros com fazedores de cultura e facilitar os acessos às políticas públicas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Lançamento do Comitê no DF acontece no dia 17 de outubro. - Foto: Raíssa Miah

No último fim de semana, a Rede de Comitê de Cultura do Distrito Federal esteve no Riacho Fundo I, na Associação Cultural Arena Lutas que é gerida pelo Bando Matilha Capoeira. A visita deu início ao projeto Circuito de Ativação, realizado pelo Comitê, que pretende promover a colaboração e o encontro de fazedores de cultura, facilitar os acessos às políticas públicas, realizar capacitação técnica e artística e promover a linguagem artístico-cultural da região.

O Comitê de Cultura do DF é fruto de uma rede nacional de comitês culturais proposta pelo Ministério da Cultura (MinC). No DF, o coletivo é composto por seis entidades que atuam em diferentes Regiões Administrativas (RAs) do DF, a Associação Mapati, a Agência de Mobilização Social Mobílis, o Instituto Rosa dos Ventos, a LabFaz, o Instituto No Setor e o Instituto Jovem de Expressão.

No Circuito de Ativação, representantes do Comitê dialogam com as organizações que realizam atividades culturais e formativas em diferentes regiões do DF. Na primeira visita, a Associação Arena Lutas escolheu um dos projetos que realizam dentro do espaço “Mulheres Fortes” que consiste no aprendizado da arte da capoeira com mães e seus filhos. O projeto é realizado todas as segundas, quartas e sextas-feiras, das 19h às 21h, a arena é aberta para que esse público conheça não somente a roda tradicional de capoeira, mas também o Côco de Zambê, Maculelê, puxada de rede e as demais composições da arte.

Segundo Dayse Hansa, coordenadora geral do Comitê de Cultura do DF, “a capoeira é considerada uma linguagem. Existe muita demanda no Distrito Federal inteiro. A ideia do Comitê não é ser porta-voz dos agentes da capoeira, é ser ponte. Seremos elos. Temos o desafio de ampliar a visibilidade do que esses coletivos já fazem em suas regiões, fazer que acessem as políticas e que elas sejam menos burocráticas”, disse.

Paula Emily, professora de Educação Física, conhecida na capoeira como mestranda Catuaba do grupo Sementes do Brasil da Ceilândia, afirma com pesar que as políticas culturais não contemplam fazedores de cultura como ela.

“Estamos presentes e resistentes há vinte anos. Para nós de periferia é bem complicado preencher os requisitos exigidos pelo governo, levando em consideração que somos um trabalho voluntário e independente. Essas políticas culturais deveriam contemplar trabalhos reais e efetivos, atuando juntamente com os projetos que apoiam, contemplam e resistem nas periferias”, observa.


Mestranda Catuaba, do grupo Sementes do Brasil da Ceilândia, fala sobre as dificuldade de acesso às políticas públicas. / Foto: Raissa Miah

A capoeirista acredita que as políticas culturais são a validação e o reconhecimento do trabalho voluntário oferecido às comunidades. Movem e dão ferramentas aos idealizadores dos projetos, tornando possível a vivência e resistência da cultura, principalmente nas periferias. E que é imprescindível que a capoeira seja incentivada, uma vez que  é um exemplo vivo e resistente que atua levando qualidade de vida e resgate social. 

Fazedores de cultura

O evento teve início com a apresentação do Côco de Zambê entre as mulheres, crianças e mestres de capoeira. Estavam presentes os grupos Bando Matilha Capoeira, Beribazu, Abadá Capoeira, Sementes do Brasil e o Instituto Cultural Raízes. 

Após a apresentação iniciaram os diálogos sobre as questões que a capoeira enfrenta para potencializar seus fazeres com foco principalmente nas mulheres. Entre as demandas apresentadas estavam a burocracia para a formalização do CNPJ, o preconceito enfrentado pelos capoeiristas para desenvolver a capoeira nas escolas e os desafios enfrentados pelas mulheres dentro do universo da capoeira e da cultura em geral.

A mestranda Catuaba apresentou em sua fala que a burocracia também é uma das barreiras que impedem as mulheres de seguir na cultura. “A barreira burocrática impede diretamente que projetos voltados a mulheres sejam possíveis. Precisamos não só de visibilidade, mas também de efetividade cultural e principalmente apoio extra cultural, para que mulheres tenham condições de praticar esporte com assistência. Projetos apoiados e voltados às mulheres, geram benefícios em toda estrutura social”.

Projeto Mulheres Fortes 

O projeto “Mulheres Fortes” nasceu da necessidade de fortalecer o papel feminino na sociedade, destacando sua importância nas lutas cotidianas e na manutenção viva das tradições. Provoca a integração de políticas públicas, pois reúne gerações e ainda promove o cuidado.

“Após a perda do meu filho mais velho, enfrentei uma profunda depressão. Quando consegui superar, entendi que poderia me conectar com outras mulheres que passam por processos parecidos. O objetivo do projeto é oferecer alternativas para superarmos as dores e evitar que outras mulheres passem por isso quando abrimos para as mães virem com seus filhos” explica a arte-educadora Cigana que também estava presente no Circuito de Ativação. 

O espaço Arena Lutas oferece a capoeira como atividade de empoderamento para mulheres e crianças com foco no fortalecimento da autoestima e no cuidado. Durante o diálogo entre os fazedores de cultura e o Comitê foram percebidas as potências da capoeira que precisam ser espalhadas pela cidade, o ponto mais citado é que os espaços onde a capoeira se estabelece possuem forte vínculo comunitário. 

“É perceptível que aqui no Arena Lutas existe zelo uns com os outros. Um lugar que tem cuidado na plantinha, no abraço e no afeto. É um espaço para se reconectar. Muito gostoso perceber a quantidade de ações e fazeres de mobilização comunitária que a cidade inteira precisa conhecer e se orgulhar. A capoeira tem muito a ensinar a cidade”, diz Rafael Reis, coordenador de pesquisa do Comitê de Cultura. 


Projeto é realizado todas as segundas, quartas e sextas-feiras, das 19h às 21h. / Foto: Raíssa Miah

Comitê de Cultura do DF 

Segundo Stéffanie Oliveira, coordenadora de produção do Comitê de Cultura do Distrito Federal, na capital do país essa ferramenta nasceu em prol da valorização e preservação das riquezas culturais candangas. 

“Essas entidades, movidas pelo amor à cultura e pela vontade de transformar realidades, uniram-se para formar o comitê. Juntas, elas não apenas facilitam o acesso às políticas de fomento à produção cultural e a outras políticas públicas, mas também promovem a mobilização social, a formação em direitos e políticas culturais, e oferecem apoio incansável na elaboração de projetos que elevam a alma de nossa comunidade. Cada ação, cada encontro, é uma celebração da diversidade e da força cultural que nos define e nos une”, ressalta Stéffani.

Nos dias 14 e 15 de outubro, o Comitê realiza um encontro formativo com 20 produtores territoriais, selecionados por meio de edital,  no Espaço Cultural 508 Sul, Galpão Hugo Rodas, das 9h às 18h.

O lançamento oficial do Comitê de Cultura do DF acontece no dia 17 de outubro, às 17h, também no Galpão Hugo Rodas.

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Edição: Márcia Silva