A estudante Isabella Leal deixou uma escola regular em 2023 para ingressar no Colégio Cívico-Militar CED 416, em Santa Maria, esperando uma melhor qualidade de ensino. No entanto, sua experiência no novo modelo foi marcada por desapontamentos.
Estudante do primeiro ano do ensino médio, Isabella nutria boas expectativas após ouvir comentários positivos sobre a disciplina adotada, mas rapidamente percebeu o foco excessivo em regras de vestimenta e comportamento, enquanto, segundo ela, pedagogia e inovação tecnológica eram deixadas de lado.
“Com o passar do tempo, percebi que as escolas estão sendo militarizadas de uma forma errada, pois a educação continua a mesma de qualquer escola pública, com problemas,” destacou Isabella. “Às vezes, falta professor, o horário é sempre confuso, e falta conteúdo, especialmente com esse novo ensino médio. Está sendo muito difícil estudar, sem falar da falta de computadores e laboratórios,” acrescentou a estudante.
Isabella contou ainda que já foi barrada na entrada da escola por usar calça jeans. “Não vejo que isso seja importante para a minha educação, o que realmente conta são bons professores, organização e laboratórios, que não temos”.
Assim como muitos outros estudantes do Distrito Federal, Isabella Leal participou do 5º Congresso da União dos Estudantes Secundaristas do DF (UESDF), realizado no último sábado (26), no Centro de Ensino Médio Paulo Freire, na Asa Norte, região do Plano Piloto. A política de escolas cívico-militares do governo Ibaneis Rocha (MDB) foi o principal alvo de críticas dos secundaristas.
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A diretora de relações institucionais da UESDF, Mariana Chagas, afirmou que o debate sobre o modelo já chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de uma audiência pública que discutiu as fragilidades dessa política e defendeu uma discussão ampliada no DF, onde já existem 16 escolas cívico-militares e há previsão de expansão.
“A população ainda acha que o modelo é similar ao dos colégios militares, com investimentos semelhantes, mas há uma visão distorcida do que é o dia a dia dos estudantes nesses espaços,” afirmou Mariana. “Trazer esse debate para o DF é politizar a juventude desde cedo, ocupando esses espaços. Temos aqui alguns estudantes dos colégios cívico-militares justamente para que expliquem aos outros a realidade dessas escolas,” acrescentou.
Câmara Legislativa
O modelo cívico-militar também está em debate na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), onde parlamentares como Max Maciel (Psol) e Gabriel Magno (PT) criticaram as propostas do governo Ibaneis para a área. Para Maciel, "o modelo de escola cívico-militar deu errado no Brasil. Não existe nenhum dado concreto, nenhuma pesquisa séria que mostre que essas escolas, com mais orçamento e estrutura que as escolas civis, tenham desempenho melhor.”
O deputado aponta que até o relatório da Secretaria de Segurança Pública e Segurança Militar mostra o fracasso em reduzir a violência nas proximidades dessas escolas, contradizendo a ideia de que a presença militar contribui para a segurança. “O que se verifica como política pública concreta é a valorização dos professores, mais recursos nas escolas, educação integral e melhorias nas condições estruturais,” defendeu Maciel.
Já Gabriel Magno, presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (CESC), ressaltou que tramita na CLDF um projeto de lei do governo que ignora o fracasso do modelo cívico-militar e prevê sua ampliação.
“O projeto é equivocado: propõe colocar detectores de metal nas portas das escolas e contratar segurança armada privada. É uma antipolítica educacional, que trata a escola como presídio e vê os estudantes e a comunidade escolar como suspeitos até prova em contrário,” criticou Magno.
Os parlamentares afirmaram que o desempenho insatisfatório das 16 escolas cívico-militares no DF evidencia o ceticismo crescente em relação a um modelo de disciplina autoritária, que negligencia o desenvolvimento pedagógico e a formação de cidadãos críticos e conscientes.
Congresso UESDF
Durante o congresso, a estudante Letícia Resende foi eleita presidente da UESDF. Letícia, que faz parte da União da Juventude Socialista (UJS), foi escolhida em uma chapa de consenso, ao lado de Izabella Maia, da Kizomba, como vice-presidente, e Lucas Xed, do coletivo Para Todos. A nova diretoria assumirá um mandato de dois anos.
O congresso incluiu também debates sobre temas relevantes para a educação e a sociedade, como racismo ambiental e justiça climática, ensino técnico no DF, políticas de assistência psicossocial nas escolas e a valorização da diversidade no ambiente escolar.
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Edição: Flávia Quirino