Pescadores e pescadoras de todos os continentes estão reunidos em Brasília para a 8ª Assembleia do Fórum Mundial de Povos Pescadores. O encontro, que começou no dia 14 de novembro e termina nesta quinta-feira (21), debate questões urgentes que afetam as águas, a pesca artesanal e os direitos das populações pesqueiras.
Os povos pescadores são um dos mais afetados pelas mudanças climáticas, que foi um dos temas centrais da assembleia. Segundo Herman Kumara, secretário-geral do World Forum of Fisher People (WFFP), fenômenos intensificados pela ação humana, como tufões, furacões, enchentes e secas, têm ameaçado o equilíbrio de ecossistemas e a sobrevivência de pescadores em todo o mundo.
“Nós tínhamos um conhecimento tradicional sobre os padrões climáticos, nós sabíamos o movimento das águas e das chuvas, nós conhecíamos a situação do meio ambiente e como ele funcionava. E esse processo de alteração das condições climáticas perturbou até a nossa maneira de pensar os nossos padrões de vida e a nossa participação na indústria da pesca”, pontuou em entrevista ao Brasil de Fato DF.
O encontro do WFFP ocorre simultaneamente à reunião da cúpula de líderes do G20, realizada nos dias 18 e 19 de novembro no Rio de Janeiro, onde o clima também esteve no centro do debate.
No entanto, o resultado das discussões realizadas pelos chefes de Estado foi recebido com ceticismo pelas delegações pesqueiras reunidas em Brasília, que definem as recomendações como “falsas soluções”.
“Quantos governos consultaram os povos pescadores? Escutaram quais os principais problemas? Eles não perguntam nada para nós”, alertou Kumara.
“Nós somos os guardiões do mar, nós somos guardiões da costa. Ou seja, eles tinham que nos escutar. Os povos indígenas estão aqui há muitas gerações, eles protegem essa terra, o mar, os recursos, o ecossistema. Mas os governos não estão cuidando do conhecimento dos povos indígenas, nem de suas práticas que nos ajudam a conservar o meio ambiente, as pessoas, as formas de vida que elas têm”, destacou o secretário-geral da WFFP.
Em resposta, as delegações que participam da Assembleia redigiram uma declaração endereçada aos líderes do G20. No documento, destacam alguns dos principais problemas enfrentados pelas populações pesqueiras: devastação de manguezais, águas e vegetação, erosão, derretimento das geleiras, aquecimento do oceano e consequente aumento do nível do mar.
O texto exige o reconhecimento, por parte dos Estados, da emergência climática e a interrupção de projetos que agravam os impactos ambientais, como a expansão da aquicultura, da pesca industrial e da chamada economia azul.
“Eles apoiam, sem que a gente participe da tomada de decisão, o desenvolvimento de projetos de habitação, de especulação imobiliária, de exploração de petróleo e gás, de mineração em alto mar. E não consideram os direitos tradicionais dos pescadores”, explica Kumara.
O documento também exige a responsabilização dos países que não respeitam os acordos internacionais e o fim da criminalização dos defensores dos direitos dos povos da água, além de reparações históricas para as comunidades afetadas.
“Todas as comunidades estão sendo afetadas pelas mudanças climáticas. Precisamos oferecer nossas próprias soluções e discuti-las”, defendeu Christiana Louwa, representante queniana do WFFP.
Mulheres e soberania alimentar
A programação do Fórum inclui debates temáticos com protagonismo de diferentes grupos. A Assembleia de Mulheres foi marcada pela discussão a respeito da violência sofrida por pescadoras em todo o mundo e do enfrentamento realizado por meio do empoderamento feminino.
“Há muita violência no mundo da pesca das mulheres de diferentes países. O machismo é muito forte em vários países e espaços. A soberania alimentar é ameaçada em algumas áreas pelo rio que está secando, pelos mares poluídos e também pelos cercos dos seus territórios. Existe muita violência, mas também existe muita luta, muita resistência”, defende Josana Pinto, do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP).
8ª Assembleia
O MPP é anfitrião da 8ª Assembleia do Fórum Mundial de Pescadores que acontece em Brasília entre os dias 14 e 21 de novembro. O encontro reúne delegados e delegadas de diversos países para fortalecer a solidariedade global e debater desafios globais, como as ameaças aos territórios tradicionais, a privatização das águas, a emergência climática e a luta pela soberania alimentar e nutricional.
O evento terminará com a marcha do 13º Grito da Pesca Artesanal, que ocorre nesta quinta-feira (21), data em que é celebrado o Dia Mundial da Pesca, destacando a resiliência e a luta dos pescadores e pescadoras artesanais.
“Esta oitava assembleia vai ficar marcada na história. Esse intercâmbio cultural, intercâmbio de luta e de resistência, de diversos povos de diferentes países traz fortalecimento para o movimento dos pescadores”, avalia Josana Pinto.
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Edição: Flávia Quirino