uma Cidadania 24 horas também poderia contribuir para o desenvolvimento econômico, cultural e social
Em um mundo cada vez mais ativo e dinâmico, as cidades estão acordando para a importância da vida noturna e para a necessidade de oferecer condições adequadas para aqueles que trabalham durante a noite. Inspiradas por cidades como Nova York, que conta com uma “Prefeitura da Noite” para regular e promover um ambiente urbano seguro e vibrante, outras localidades estão repensando sua abordagem em relação à cidadania 24 horas. Em Brasília, onde a vida noturna e o fazer cultura tem sido cada vez mais cerceados, faz-se urgente uma discussão que contemple tanto os trabalhadores da noite quanto os moradores e frequentadores desses locais.
Os trabalhadores noturnos – como vigilantes, motoristas, profissionais de limpeza, atendentes e artistas – sustentam uma parcela significativa da economia local e merecem políticas que os protejam e valorizem.
Assim como defendeu Ariel Palitz, ex-prefeita da noite de Nova York, é preciso garantir que essas pessoas trabalhem em condições dignas, com segurança, respeito e acesso a serviços essenciais. Muitas vezes, esses trabalhadores enfrentam situações adversas, como a falta de transporte público adequado durante a madrugada e a insegurança nas ruas. Em cidades que adotaram a figura de uma "prefeitura da noite", houve avanços significativos na criação de uma rede de apoio, regulamentação de horários e diálogo contínuo com a população e o setor público.
A criação de uma “Prefeitura da Noite” em Brasília seria um passo importante para garantir uma cidadania que funcione 24 horas. Esse órgão, ligado ao Governo do Distrito Federal ou à Secretaria de Cultura, poderia atuar na mediação de conflitos entre comerciantes, moradores e trabalhadores noturnos, além de dialogar com as forças de segurança e o sistema de transporte.
A experiência de Nova York demonstra que a presença de uma liderança dedicada à noite facilita o equilíbrio entre uma vida noturna ativa e o direito ao descanso dos moradores. Em Brasília, essa estrutura poderia facilitar um diálogo construtivo entre os setores de lazer e segurança pública, promovendo um ambiente mais inclusivo e dinâmico.
Além de garantir melhores condições de trabalho, uma Cidadania 24 horas também poderia contribuir para o desenvolvimento econômico, cultural e social da cidade.
A formalização de espaços de lazer e eventos culturais noturnos estimula o turismo, fortalece a economia criativa e amplia o acesso a atividades culturais. Para trabalhadores noturnos, isso representa o reconhecimento do papel que desempenham na cidade e a valorização de seu direito ao trabalho digno e seguro. Políticas voltadas para a vida noturna podem também incluir programas de capacitação para o setor, regulamentação de horários e integração de modais de transporte, promovendo um ambiente urbano mais equilibrado e sustentável.
A implementação de uma cidadania 24 horas em Brasília, inspirada nos modelos de Nova York e Amsterdã, atualizados para a realidade do Sul Global e para a imensidão que é a noite do Distrito Federal, não se resumindo ao Plano Piloto, demonstraria um compromisso com a inclusão social e o respeito pela diversidade de ritmos da vida urbana. A cidade se tornaria mais acolhedora, não apenas para os frequentadores da vida noturna, mas, sobretudo, para aqueles que trabalham para que ela aconteça.
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*Rafael Reis é coordenador do Instituto No Setor.
** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do editorial do jornal Brasil de Fato - DF.
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Edição: Flávia Quirino