Brigadistas voluntários no combate ao incêndio florestal foram homenageados em sessão solene na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) no dia 21 de novembro. A iniciativa do deputado distrital Fábio Felix (Psol) prestigia a categoria pelo compromisso com a proteção da biodiversidade local e com a segurança da população, principalmente no controle das queimadas que assolaram o DF este ano.
O ofício das brigadas voluntárias não é remunerado. Os agentes atuam por conta própria com treinamento e capacitação para combater incêndios e fornecer primeiros socorros. Além disso, também desempenham atividades voltadas à educação ambiental e conservação.
Segundo Félix, a solenidade destaca a importância de discutir a implementação de políticas públicas que assegurem mais apoio, recursos e treinamento para os brigadistas voluntários, o que é essencial para intensificar o combate aos incêndios e promover um ambiente mais seguro na cidade.
A homenagem foi celebrada com a presença dos brigadistas voluntários do Instituto Cafuringa (Icaf), do parque Canela de Ema e da comunidade do Córrego do Ouro. A abertura do encontro deu destaque ao Icaf, associação criada depois que um incêndio criminoso na vegetação do Lago Oeste feriu gravemente o cozinheiro Paulinho Lima em 2019. Ele sofreu queimaduras de primeiro e segundo graus em cerca de 40% do corpo, incluindo cabeça, face, tórax, membros inferiores e superiores.
O trabalho começou buscando “recursos pra minimizar os impactos dos incêndios criminosos no nosso território, tanto no mapa quanto no corpo. Nascemos no ano desse acidente, quando ainda sem nenhum equipamento e treinamento adequado fomos combater um incêndio criminoso”, afirma Paulinho.
A brigadista florestal Caroline Dantas, coordenadora do Instituto, ressalta que o coletivo é uma organização socioambiental de apoio e fomento às brigadas florestais voluntárias e de proteção do Cerrado através da educação ambiental em Sobradinho, Sobradinho II e Fercal. O grupo é formado por brigadistas, engenheiros florestais, geógrafos, cozinheiros, artistas, fotógrafos e produtores culturais em quatro brigadas ativas.
Apesar da importância do trabalho para toda a população do DF, brigadistas voluntários não são devidamente reconhecidos pelos órgãos oficiais: "infelizmente os órgãos federais não têm disponibilidade de instrutores que nos atendam como comunidade". A formação do brigadista ocorre "sempre durante a semana, 40hs de segunda a sexta. Os voluntários quase nunca conseguem o privilégio de ter uma semana inteira de folga pra investir em uma formação. Com muita dificuldade nesses 5 anos de busca incessante por formação, conseguimos formar quase 60 voluntários, entre cursos que nós fizemos em parceria com o ICMBiO e Ibama", explica Caroline.
Incêndios
Em 2024, seis brigadistas voluntários foram mortos atuando no combate ao incêndio florestal: Gercí Silveira Júnior, Ednelson Maciel, José Almir Portugal, Saulo Rodrigues de Oliveira, Sidney de Oliveira Silva e Wellington Lopes do Santos.
Segundo a coordenadora da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias, Maisa Assunção, essa quantidade de brigadistas mortos em ação é um problema relativamente novo e com causas diretamente relacionadas ao aumentos dos incêndios ligados aos fatores de mudança climática e intenções criminosas de destruição ambiental.
“Nessa minha trajetória, eu tenho percebido como que a cada ano tem se agravado as situações de incêndio e por isso nós estamos chegando nesses números. Precisamos atuar coletivamente para poder evitar que essas mortes e acidentes graves aconteçam”.
A natureza dos incêndios
O geógrafo Fernão Lopes, também membro da Brigada Voluntária Guardiões da Cafuringa, avalia que a causa dos incêndios no DF está relacionada à ação de “grilagem de terras e piromaníacos que seguem a lógica da extrema-direita de ‘quanto pior, melhor!’. São verdadeiros profetas do caos praticando terrorismo climático explícito e deliberado”, afirma.
Ele explica que “os brigadistas estão enfrentando uma situação quase de guerrilha, inclusive com proteção armada por conta dos pistoleiros. Não é um caso isolado, já vimos situações assim no DF”.
Lopes enfatiza a importância de garantir a segurança durante os combates, mas também ressalta a necessidade de ações em várias frentes, como prevenção, educação ambiental e restauração. “Estamos construindo uma rede de brigadas locais, trazendo equipamentos e treinamento, e lutando por recursos que, para nós, fazem uma enorme diferença”, explica.
Breno Vidany, brigadista do Coletivo Boca da Mata, que atua no Parque Boca da Mata de Taguatinga e Samambaia, considera que “grileiros que atuam em algumas áreas querem regularização fundiária rural e fazem incêndios propositais. Essa seria uma linha de investigação. Também há agricultores que utilizam incêndios para algum tipo de tratamento da terra. Isso seria uma possibilidade. Nesse contexto, é, obviamente, não recomendado e até proibido, dado o contexto de seca e umidade de 7%”.
Além disso, há danos na qualidade de vida da população geral com a poluição do ar. “Muitas vezes, há emissão de gases traço, como os gases do efeito estufa, que incluem óxido de carbono, monóxido de carbono e óxido nitroso, que intensificam o aquecimento, especialmente o óxido nitroso e o óxido nítrico. Esses gases são muito mais prejudiciais à atmosfera do que o próprio dióxido de carbono”, explica o geógrafo.
A Lei de Crimes Ambientais, Lei Federal 9.605/1998, estabelece que quem provocar queimadas está sujeito a pena de reclusão e multa que pode chegar a R$ 4 mil.O governo federal discute uma proposta de lei que aumenta a pena para incêndios criminosos.
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Edição: Flávia Quirino