Distrito Federal

Sem medo

Mulheres protestam contra a violência no Parque Olhos D’Água em Brasília

Manifestações foram realizadas no sábado (14) e domingo (15) e alertaram sobre ausência de políticas públicas

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Mobilização foi uma resposta à tentativa de estupro de uma mulher que caminhava no local. - Foto: Claudia Correia

Coletivos de mulheres do Distrito Federal promoveram neste sábado (14) o Ato “Mulheres sem medo”, na entrada do Parque Olhos D’Água, na Asa Norte, em Brasília. A mobilização foi uma resposta à tentativa de estupro de uma mulher que caminhava no local, no final da tarde do dia 6 de dezembro.

O Parque Ecológico Olhos D’Água, foi criado pela Lei 556 de 07/10/93 e conta com 28 hectares dentro da área que compreende as SQN 413 e 414 e SCLN 414 e 415. A área dispõe de pistas de caminhada, tendas de massagem, academia ao ar livre, quiosque, banheiros e espaço para leitura, onde acontecem rodas de choro, aulas de capoeira, yoga, dança circular e outras atividades socioculturais da comunidade local.

O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) informou à imprensa que está se empenhando para dar agilidade a contratação de um posto de ronda motorizado de forma a prestar serviços ainda melhores de monitoramento da área.

Participaram da mobilização, ativistas em defesa dos parques, moradores da região, frequentadoras do parque, representantes do Coletivo Filhas da Mãe, do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro) e o deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF). O grupo se concentrou no portão principal do parque porque os seguranças do local não permitiram a entrada com faixas e cartazes com palavras de ordem: “Queremos mulheres sem medo” “Por mais segurança para as mulheres do DF”, “Direito de ir e vir” “Não é um caso isolado”.

Para o parlamentar, não há investimento na segurança e estrutura no Distrito Federal por falta de priorização da vida das mulheres no território. “Casos como este, em locais de lazer, alertam a toda a população, mas infelizmente esta é a realidade em vários outros espaços do DF. Falta investimento em educação, em segurança especializada nos locais públicos, iluminação pública nesses espaços, campanhas de combate à violência, criação de protocolos para evitar os casos de violência e garantir caso aconteça que as denúncias possam ser feitas e sejam resolvidas”, afirmou Gabriel Magno


Participaram da mobilização, ativistas em defesa dos parques, moradores da região, frequentadoras do parque. / Foto: Jorge Monicci

No interior do parque, próximo à entrada principal, duas viaturas da empresa terceirizada de segurança e quatro agentes permaneceram no local, até o início da chuva e a dispersão do grupo de manifestantes no final do ato pacífico. 

A ativista e frequentadora do parque Madalena Rodrigues reivindicou maior segurança na área. “Eu ouço há mais de um ano que esse parque precisa de vigilância motorizada e isso depende do IBRAM, de licitação, mas, o tempo passa e não temos até hoje, isso faz muita falta para a segurança das mulheres, principalmente, e de milhares de frequentadores”, afirmou.

A dirigente do Sinpro, Leilane Costa, defendeu a participação política das mulheres e o direito à cidade.  “Nós mulheres temos o direito à cidade, a andar com segurança. Nós precisamos que os parques, as ruas sejam bem iluminados, que tenham segurança e principalmente que nada aconteça contra nós mulheres. É preciso garantir segurança, ter política de conscientização da importância e da valorização de nosso cuidado. Estamos aqui hoje, mas, é importante que mais mulheres se somem a essa luta por segurança em todos os outros espaços do Distrito Federal”, conclamou.

Manifestação no domingo


Ação “Capoeiragem e Roda de conversa" foi realizada na manhã de domingo (15). / Foto: Claudia Correia

“A gente está na luta se nosso corpo está em luta”. Esse alerta da historiadora e capoeirista Rosângela Araújo, a Mestra Janja, inspirou a ação “Capoeiragem e Roda de conversa pela segurança das mulheres em todos os lugares”, realizada no domingo (15), também no Parque Olhos D'Água.

A iniciativa partiu de coletivos de capoeira como uma forma de expressar indignação e dialogar sobre práticas coletivas e estratégias de enfrentamento à violência contra as mulheres. 

Para as organizadoras, a intenção foi usar a capoeira, de forma lúdica, para chamar atenção do público para o direito das mulheres de ir e vir com segurança, de ter acesso ao lazer e à cultura, e às áreas públicas da cidade. As representantes dos coletivos Nzinga, Beribazu e Formigueiro, abriram o evento com a confecção de cartazes com palavras de ordem: “A vida das mulheres importa”, “O corpo das mulheres não é objeto para uso. Respeito!”, “Parque seguro para as mulheres”, que foram fixados no quiosque do parque. 

Camila Tenório, ativista do movimento feminista e Rita Freire, do Coletivo de Bordadeiras Linhas da Resistência, prestaram apoio às entidades organizadoras do ato e participaram da banda musical, da roda de capoeira e da oficina de cartazes. Elas defenderam a união dos grupos de mulheres de Brasília para fortalecer o combate à todas as formas de violência de gênero e o direito à cidade.  

Integração entre gerações

Mulheres de todas as idades e crianças jogaram capoeira e ouviram os depoimentos sobre a luta em defesa dos direitos das mulheres e por melhorias nas condições de conservação para o uso seguro do parque. As crianças tiveram oportunidade de se expressar de forma lúdica e aprender sobre a cultura da capoeira nas rodas conduzidas pelas facilitadoras dos grupos promotores do encontro.


Ação foi realizada em repúdio à tentativa de estupro no parque. / Foto: Claudia Correia

Kharin Teixeira, moradora da região e frequentadora do parque, membro do Grupo Nzinga, desenvolve projetos de capoeira há um ano e integra um dos coletivos de mulheres que pratica e difunde essa tradicional expressão cultural.

“Nós conquistamos essa prática, o direito ao acesso às áreas públicas, poder circular, esse episódio violento ocorrido no parque me afetou, afetou todas nós, queremos transformar o que aconteceu numa oportunidade para entender a força que tem a união das mulheres, tendo a capoeira como uma ferramenta”, afirmou. Para ela o objetivo do encontro foi dialogar com a comunidade local sobre o que representa ser mulher em espaços públicos, na sociedade, em ambientes de preservação ambiental da cidade para manter uma vida sustentável.

Sociedade da violência

O último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2023, apontou  74.930  casos de estupro no Brasil, destes 76% foram estupros de vulneráveis (contra pessoas incapazes de consentir, seja pela idade, menores de 14 anos, seja por alguma enfermidade ou deficiência). As principais vítimas foram do sexo feminino (89%), negras (57%) e crianças de até 13 anos (60%).No ano passado, o Distrito Federal teve 322 estupros e 574 estupros de vulnerável, apontando um aumento de 8,9% em comparação com 2022.

Para Cosette Castro, do Coletivo Filhas da Mãe, vivemos numa “sociedade da violência” contra pessoas negras, indígenas, periféricas e principalmente, mulheres que sofrem todos os dias diferentes tipos  de violência, assédio e preconceito. “Temos de sair da sociedade da violência, falar todos os dias, dessa violência que atinge as mulheres, estar nas ruas juntas,  se manifestar todos os dias e temos várias formas de fazer isso", afirmou. O coletivo, que existe há 5 anos, promove atividades em defesa dos direitos das mulheres.

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Edição: Flávia Quirino