“Seguimos o companheiras. Seguimos em oração. Seguimos à serviço, à serviço da revolução”
Muitas! Vamos partilhar algumas com vocês. Porque a partilha faz parte desse nosso desejo de despertar no coração das pessoas vontade de sonhar, construir, amar, revolucionar!
Assim iniciamos e finalizamos todos os anos, desde a formação da Burlesca. O teatro a serviço da revolução guia nossas produções sempre. A cada pequeno espaço, aos encontros dos olhares, cada afeto trocado, uma oportunidade de plantar novos sonhos.
Esse ano encerramos o ano com o projeto “Todo chão é palco”, um dos maiores lemas do grupo. Pisamos em chãos sagrados e consagrados. Seja lotando teatro com “nosso povo” ou apresentando aos pés da sepultura da Dica.
Tivemos inúmeros recomeços e o mais desafiador foi contar “A legítima história verdadeira” sem uma peça no tabuleiro, a montagem inicialmente composta por 4 pessoas foi adaptada para três intérpretes. Mas a força de Margarida Alves e Roseli Nunes, nos levou a momentos marcantes que só fortaleceram a vontade de seguir levando o legado dessas guerreiras a todos os cantos.
Um deles foi um final de semana de apresentações no SESC da 504 sul com uma plateia de respeito! Educadores, militantes, estudantes, familiares, parceiras, parceiros, amigas e amigos, o nosso povo! Essa temporada e apresentação de “Bendita Dica” no Teatro dos Bancários foi a nossa homenagem ao mês de luta das mulheres. Salve o 8 de março e as mulheres de luta!
Em abril, voltamos à Lagolândia (GO) para o aniversário de 119 anos de Santa Dica. É difícil descrever o que é contar sua história em frente a sua sepultura com familiares, pesquisadores e admiradores da sua história. Após 8 anos de vida da nossa peça, é maravilhoso ver o tanto de novas pesquisas que surgiram! É a ciência mudando! é o povo incidindo na história.
O “Circulá - Dica daqui pra acolá” aterrissou em Fortaleza para espalhar a história de Benedita Cipriano Gomes, nossa madrinha Dica. Passamos pela Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Ceará com espetáculo e oficina. E tivemos a oportunidade de conhecer dois espaços maravilhosos: a Casa Absurda e o Espaço Popular de Artes (EPA). Os grupos que gerem estes espaços se tornaram nossos parceiros/as de vida e arte! Agradecemos muito ao grupo Pavilhão da Magnólia que nos acolheu e acompanhou e ao Fundo de Apoio à Cultura, que patrocinou o projeto.
Em maio tivemos a alegria de participar de dois importantes espaços aqui do Distrito Federal, o Festival de Teatro e arte-educação de Brazlândia e o Cena Expandida - Festival de Teatro e Comunidade em Planaltina. A cada ano que passa estamos vendo o DF mais rico em atividades que democratizam o acesso à cultura e à educação.
Tivemos o despertar da nossa “A aurora”, mais uma história contada a partir da ótica de uma mulher ou melhor, uma menina guerrilheira da educação. Dirigido por Patrícia Barros e Lyvian Sena, com atuação de Julie Wetzel, parimos mais uma peça que tem em sua própria matéria o jeito de fazer e pensar das mulheres.
Como dito pelo público “esse espetáculo é a materialização do que vocês fazem há anos”. E nossa brigadista em formação conquistou desde as plateias da Educação de Jovens e Adultos (EJA) ao público dos teatros independentes. Reforçamos nossas parcerias e construímos novas, foi rico mapear e despertar sonhos em 7 RAs do Distrito Federal e assim, alimentamos a nossa vontade de seguir nosso ofício da arte, educação e revolução.
Na contramão do sucateamento da EJA, fortalecemos mais ainda nossos vínculos com organizações e coletivos que estão na linha de frente por uma educação de qualidade para todas as pessoas.
Ganhamos de presente as reflexões do professor Rafael Villas Bôas no texto de sua coluna "A Aurora: novo espetáculo da Cia Burlesca aborda, em chave épica, o tema da educação, de ontem e hoje", nossos parceiros do Coletivo Família Hip Hop da Casa Moinho de Vento em Santa Maria também socializaram sua reflexão "O analfabetismo para além das letras: como anunciar a Aurora da Educação?" e a professora e pesquisadora do Coletivo Terra em Cena, Simone Rosa publicou no blog “A aurora – mais recente peça da companhia Cia Burlesca".
Esse ano também teve a inesquecível VI Mostra Terra em Cena e na Tela, organizada pelo Coletivo Terra em Cena. E desta vez foi em Cavalcante (GO), no território quilombola Kalunga, onde nós temos uma longa história de relação. Faltava levar o espetáculo “A Legítima História Verdadeira”, então foi este mesmo que abriu a Mostra. Não cansamos de dizer que é a plateia que dá vida à peça! Quando se trata de gente de luta, o espetáculo reúne as forças presentes. Esse dia está guardado com muito carinho. Que a gente siga acreditando que o teatro e a educação promovem grandes revoluções!
“A Legítima História Verdadeira” também compôs a programação da 5ª Plenária Nacional da Juventude Rural da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agricultores e Agricultoras Familiares (Contag), que aconteceu em novembro. Juventude do campo, da floresta e das águas do Brasil inteiro lutando por direitos e justiça social, assim como as tantas mulheres citadas no espetáculo. A Contag é parceira antiga.
É um privilégio pra gente construir com o povo da agricultura familiar, que de forma valente segue defendendo nossos biomas, nascentes produzindo comida sem veneno, gerando vida! "A Aurora" também passou pela Contag com uma apresentação para educadores/as populares da região norte da Escola Nacional de Formação da Contag (Enfoc). Foi bonito, simbólico e potente. Certamente Paulo Freire sorriu nesse dia. Porque sim, ele vive em cada educador e educadora que ousa democratizar as letras, o conhecimento! É como diz uma canção de luta do movimento sindical rural: Enquanto a gente educar, Paulo Freire viverá!
Resgatamos “O Longe”, e com ele levamos o povo de longe para ocupar as poltronas do SESC Paulo Autran. Fizemos parte do Festival de Teatro do Distrito Federal feito por gente apaixonada, competente e com garra para manter a luta em frente. Olhamos para uma plateia repleta de meninas e avós do Longe em silêncio absoluto e um mar de emoção nos olhos ao ver ali, a sua vida e luta em foco no palco.
Esses pequenos mares se juntaram e inundaram o teatro e fizeram desse dia inesquecível. E o resultado, um prêmio em destaque para uma atuação movida pela paixão ao ofício e dedicação a luta, parabéns para nossa companheira Julie. Que leva nessa atuação, e em tudo que faz, a bagagem da luta e inspiração das mulheres que a guiaram e guiam em todos seus passos.
Ainda tivemos a linda surpresa de passar para o 14º Festival Popular de Teatro de Fortaleza com o espetáculo “A Aurora”! Um Festival que ocupa escolas, teatros, espaços independentes promovendo democratização do acesso à cultura. Encerramento numa quadra poliesportiva dentro de uma comunidade com espetáculo, forró e pessoas de todas as idades! Coisa linda de ver e viver. De preencher o corpo de esperança e força para seguir!
Assim como a vida foi um ano cheio de belezas e também de chateações. Projetos não aprovados, falta de tempo para criar por conta da sobrecarga de trabalho (como toda a classe trabalhadora a gente acumula muitas funções para garantir renda), falta de espaço para ensaiar e para guardar cenários, figurinos, cansaço, muito cansaço!
Importante registrar aqui nosso profundo agradecimento ao Centro Cultural Brasília e à Heloísa Wetzel, que nos ofereceram espaços para ensaios e isso fez toda diferença no nosso cotidiano. Quem tem parceiro, parceira tem tudo! Parece clichê, mas é muito verdade! A solidariedade impulsiona criação, circulação, movimento.
Escrever esse texto, buscando os encantamentos, é uma forma de olhar novamente para as dificuldades que passamos ao longo do ano com olhar de esperança! É renovar mais uma vez nossos pactos coletivos para o início de um novo ano em que estaremos mais uma vez juntos/as fazendo teatro com coragem, ousadia, desejo e muito, muito trabalho!
É celebrar para desejar mais! É abrir espaço para novas ideias, novos projetos! Compreendendo que mesmo nos momentos mais complicados precisamos crer que há caminhos, brechas, alternativas!
Fechamos o ano sonhando em fazer mais e desejando que todas as pessoas tenham acesso à vida digna para não perderem o direito de sonhar!
Sigamos em luta, companheirada! Há muito para se fazer e juntos/as somos mais fortes!
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*A Cia Burlesca é uma companhia de teatro político do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato DF.
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Edição: Flávia Quirino