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Ainda estamos aqui!

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"Nesse 8 de janeiro, nos encontraremos na luta. Mas além de nossa presença na Praça dos Três Poderes, peço para possamos defender a nossa democracia diuturnamente" - Foto: Emilly Firmino @caaajuina
Assim como outros direitos conquistados, aprendemos que a manutenção da democracia requer esforço

O Brasil começou a semana com uma maravilhosa notícia. Fernanda Torres recebeu o prêmio Globo de Ouro de melhor atriz por sua atuação no filme Ainda Estou Aqui. Nesse sucesso de bilheteria de 2024, Fernanda Torres interpreta Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva, deputado federal caçado logo após o golpe de 1964. A película retrata com muito brilhantismo o impacto de um regime antidemocrático na vida de cidadãos comuns. Do dia para a noite, uma família precisou mudar radicalmente de trajetória enquanto precisava processar um luto que não foi permitido. E essa história foi muito mais comum do que gostaríamos.

O filme viabilizou um fenômeno interessante: apresentou os absurdos da ditadura a um público muito jovem. Foram centenas de vídeos de jovens em redes sociais que compartilharam as trajetórias de seus avós e como essas foram interrompidas pelas barbaridades de ditadura. E, certamente, outros milhares puderam acessar histórias tumultuadas escondidas na calmaria por trás dos cabelos brancos de figuras afáveis.

Não vivi a época da ditadura, tive a felicidade de nascer e crescer em um contexto de reconstrução democrática. Tive a oportunidade de me formar cidadão, atuar na militância política; tudo isso com a certeza de que nenhum déspota ameaçaria o pacto social, o equilíbrio dos poderes, os direitos humanos. Minha vivência com a ditadura seria por conta das aulas de História e do contato com tantos militantes que ajudaram na minha formação, inclusive meus pais.

E sinto que minha geração não teve exatamente a dimensão da grandiosidade disso tudo. Fui líder estudantil como Honestino Guimarães; isso não custou minha liberdade e minha vida. Fui sindicalista como Aluízio Palhano; isso não custou meu direito de defender minha categoria. Estou parlamentar como Rubens Paiva; isso não custou meu mandato e meu dever de servir ao povo. Tudo isso por conta dela: a democracia.

Mas assim como tantos outros direitos conquistados na base de muita luta, aprendemos que a manutenção da democracia requer tanto ou mais esforço. Por mais que tenhamos vivido anos de estabilidade e certeza democrática, quando esse regime de governo parecia tão líquido e certo quanto o nascer do sol, episódios recentes mostraram que certos grupos não têm pudores de suspender esses princípios basilares para cumprir com agendas escusas. Vivi e estive na luta e nas ruas contra o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff. Lutamos juntos como milhares pela liberdade do presidente Lula, vítima de uma perseguição política. Lutamos muito contra o desgoverno bolsonaro e sua tentativa de golpe que resultou nos atos terroristas do dia 8 de janeiro de 2023.

Por essas e outras razões, uma das primeiras ações do meu Mandato foi apresentar Projeto de Lei para transformar o dia 8 de janeiro em Dia em Defesa da Democracia. Naquele domingo em que acreditávamos respirar a plena democracia tão maltratada na gestão do ex-presidente inelegível, nossa cidade foi palco de um episódio dantesco e que precisa ser exposto em caixa alta para que não seja relativizado, tampouco esquecido. Conforme as investigações se aprofundam, somos atingidos pela sordidez de setores da sociedade que planejaram tomar a vida de um líder democrático – líder esse que nada fez contra a democracia nas três oportunidades em que foi preferido no pleito eleitoral.

Assim como Erasmo Carlos, ficamos envergonhados com as coisas que vimos. É preciso dar um jeito. Nesse 8 de janeiro, nos encontraremos na luta. Mas além de nossa presença na Praça dos Três Poderes, peço para possamos defender a nossa democracia diuturnamente. Pois já houve tempo em que um singelo texto como esse não seria permitido, tampouco uma reunião pública em torno de uma ideia. Por mais sinuosos que sejam os caminhos que trilhamos, é preciso reconhecer e valorizar o esforço de quem os abriu com muito custo. Hoje gritaremos: Ainda estamos aqui! Viva a democracia!

*Gabriel Magno é deputado distrital (PT-DF)

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa  a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato - DF.

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Edição: Flávia Quirino